10.11.21

Fonte: Aleksei Morozov/iStock

Pois é. Três anos sem um único post neste recanto. E, para falar verdade, já não pensava dar uso a este velho recanto. Mas há bichos que falam mais alto e vontades que não desaparecem. E por isso aqui estamos. Sabe-se que o fenómeno das redes sociais tem causado o definhar desta blogosfera que já foi um mundo... o que no meu caso até nem se verifica: se não escrevo aqui, não escrevo em Facebooks, ponto. Mas talvez possa dar uma nova vida a este cantinho - e tenho aqui um ou outro rascunho que até posso chutar para a actividade.

Mas adiante.

Eu, pessoa depressiva, me assumo. Para muitos, a depressão, não passa de uma desculpa. "Queres é atenção!", "Coitadinho de ti, até parece que tens algum problema grave!", para citar dois exemplos de respostas. É sempre fácil estar de fora e proferir juízos de valor sobre o que se passa na cabeça de outrém. Todavia ninguém julgue sem saber as dores alheias - talvez seja um chorrilho de lugares-comuns, mas é a realidade: podemos ter um emprego, termos familiares que se preocupam connosco, que nos adoram, e mesmo assim sentirmo-nos como se tivéssemos uma pedra de 16 t amarrada ao pescoço. Por coincidência, neste dia há 12 anos um jogador de futebol bastante conhecido colocava termo à sua vida devido a uma depressão. E um futebolista - e um futebolista como era o Robert Enke - em teoria seria uma pessoa que não teria grandes motivos para andar deprimido, o que apenas demonstra que são coisas que não afectam só os pobretanas e a arraia-miúda.

Para outros, a solução para quem está deprimido passa por dar umas palmadinhas nas costas e dizer "Não penses nisso!". O problema é que quem está deste lado da barricada não consegue não pensar nisso. Aliás, como bem se sabe, quanto mais se pensa em não fazer uma coisa mais nós vamos fazer essa mesma coisa - e a mente é demasiado desobediente para fazer aquilo que é suposta. Pensamos em tudo e no seu oposto, questionamos tudo, interrogamo-nos sobre se realmente estaremos a fazer alguma coisa certa, não temos a certeza do que devemos fazer ou não. E por mais que nos dêem palmadinhas nas costas, de manhã ao acordar as dúvidas vão lá estar à mesma, as vozinhas que vão buscar toda a tralha negativa existente vão acordar e começar logo ao trabalho... não nos restando outra alternativa senão engolir em seco e tentar arranjar força de vontade para meter os pés fora da cama e tentar encarar um mundo e uma sociedade que não se compadece de quem não é "forte", de quem não tem "lata".

Que podemos fazer? Diz-se que o primeiro passo tem de ser dado por nós, o reconhecer que precisamos de ajuda; a meu ver e talvez por me ter sido fácil reconhecer isso, acho que esse passo é extremamente fácil. Todavia... e depois? Que ajuda é que nos vai fazer superar estes desarranjos? Vamos ao psiquiatra, ele receita-nos medicação... mas até a medicação ficar no ponto ainda há muito a penar - e não nos esqueçamos que a medicação é receitada ao consoante daquilo que nós dizemos, e o que nós escolhemos dizer ao psiquiatra como possível causa para os nossos problemas até pode ser um factor irrelevante, enquanto nos calamos sobre aqueles que realmente nos deitam abaixo porque os desvalorizamos. Não há absolutos, não há possibilidade de nos ligarem uma máquina à cabeça e verem exactamente quais as zonas afectadas e os problemas que urge atacar. Daí podermos andar uma vida inteira no psiquiatra e andarmos sempre mal porque não estamos a ser tratados convenientemente devido a não colocarmos certeiramente o dedo na ferida. Todavia não quero dizer que não acredito na solução psiquiátrica - aliás, é precisamente o oposto e talvez eu coloque demasiada esperança que haja medicação que nos dê um élan capaz de nos meter a ver unicórnios e arco-íris e a andar de peito feito e sorridentes como se nada nos afectasse. Talvez eu seja demasiado utópico neste patamar e devesse apenas procurar andar minimamente funcional, capaz de funcionar na dita sociedade defeituosa que temos.

Podem-se perguntar: afinal, qual o objectivo deste post? O que defende ele? Em suma... diria que o objectivo deste post é, tão só e apenas, despejar cá para fora o que sinto e o que penso, mostrar um pouco de como funciona a minha mente desarranjada. Não preciso de palmadinhas nas costas, de "respira fundo, vai correr tudo bem!". Preciso, apenas e só, que a depressão adormeça o suficiente para eu poder funcionar como deve ser - ou como deveria ser. Mais nada.

disfunção original de Carlos Loução às 15:35

17.03.16

n-DIVORCE-large570.jpg

Devia falar por aqui mais vezes, é um facto. Mas o Facebook rouba-me a vontade de vir largar aqui postas. Não que passe a vida lá enfiado, atenção; todavia, tropeço em algo que me faz rir no dia-a-dia e acabo por despejar lá, escrevo uma frase ou duas e pronto. Mas desta vez vou forçar-me aqui, a escrever o que me deixou na necessidade de disfuncionalizar um bocadinho (esta coisa de inventar palavras é muito in, não é?).

Hoje, pela primeira vez na minha vida, presenciei um capítulo de uma batalha pelos direitos parentais de uma criança. E confesso que não gostei do que vi - se calhar acho que qualquer um não gostaria... mas abordemos o assunto com o máximo de precaução para tentar não ferir susceptibilidades (que hoje em dia temos de ser politicamente correctos ao máximo senão em menos de nada temos uma multidão à nossa porta com archotes e forquilhas pronta a linchar-nos).

Hoje fui ter com uma amiga (chamemos-lhe Filipa, um nome fictício) - sim, eu tenho amigas do sexo feminino. Depois de alguma conversa, acompanhei-a para ela ir buscar o filho à família do pai da criança, pois, depois do nascimento do rebento, pai e mãe desavieram-se e separaram-se, como tantos casais por esse mundo fora, e agora não se podem ver sem começarem a discutir, mesmo com os membros da família do ex-conjuge. A coisa tomou contornos de tal forma que a justiça já está metida ao barulho e está acordado que cada pai pode passar um fim-de-semana com o filho, indo-o buscar a determinada hora. E hoje foi o dia de Filipa ir buscar a criança.

Se todas as coisas corressem bem, à hora regimental, a criança estaria pronta para ir com a mãe; todavia, devido a alguns problemas (quem sabe derivados de toda esta situação), ela anda na terapia da fala. E assim que chegámos (com um ligeiro atraso, admito), a criança ainda não estava despachada, pois a consulta da terapia acaba à hora a que a custódia troca - aparentemente. Durante o tempo de espera, Filipa, que é uma rapariga de "pelo na venta", esteve na rua, a mandar vir com o Universo, a mandar bocas alto e bom som - que as pessoas que estavam em casa decerto ouviram.

Quase meia-hora depois da hora prevista, aparece o carro com a criança, o pai, o avô e a companheira actual do pai. E logicamente começa um bate-boca por causa do atraso, por causa do comportamento de Filipa, dos direitos de cada um, olharam o meu carro a pente fino, perguntaram-me onde tinha a cadeirinha, ao verem que não tinha armaram (ainda mais) um pé de vento para que eu não os levasse no carro, e quando Filipa se resolveu a levar a criança consigo e ir de transportes para casa (tendo de apanhar autocarro, comboio e autocarro para lá chegar) anunciaram alto e bom som que me iam seguir para garantirem que eu não lhes iria dar boleia. E, efectivamente, depois de Filipa ter abalado a pé com a criança rumo à paragem do autocarro, durante um bocadinho tive um carro atrás de mim - e, para não chatear mais os senhores, pois eles pareciam estar chateados, até fiz questão de esperar por eles. Um pouco mais à frente, virei para um lado e eles seguiram para o outro. Enquanto eu dava uma volta a uma rotunda (porque, a bem dizer, eu me enganei no caminho), vi o carro dos familiares do marido já a voltar para trás e duas pessoas - o pai e a namorada - a correrem desabridamente rumo a um ponto desconhecido. E assim acabou aquele momento de tensão... pelo menos para mim. Segundo vim depois a saber, o carro com o avô da criança entreteve-se a seguir o autocarro onde seguiam Filipa e a criança até à estação do comboio, ficando na zona envolvente à espera que eles entrassem no comboio.

Bom, isto agora é tudo muito giro de ler e debater e pensar. Todavia, como eu disse ali em cima, esta foi uma batalha de uma guerra que terá sempre uma vítima: a criança. Por muito que se tente escudar e proteger os filhos das discussões e zangas e birras entre membros familiares, eles apercebem-se de tudo e acabam por sair magoados. Ao mesmo tempo, é triste ver que aquela criança é "usada" como arma de arremesso para um lado tentar levar a melhor um sobre o outro. Todos querem o melhor para a criança, acham (ou dizem) que o seu lado poder-lhe-á dar tudo o que ela necessita para ser feliz; todavia parecem contentar-se mais em fazer os possíveis para que quem está do outro lado sofra a pena de perder todos os direitos parentais sobre aquela criança, provocando e tentando fazer com que o outro lado cometa uma imprudência que possam apresentar na justiça. Só que... que solução existe para estes casos, em que os pais quase parecem querer matar-se uns aos outros? Que fazer aos filhos para que eles sejam poupados a estas situações? Retirá-los a ambos os pais? Família de acolhimento? Decidir logo na altura entregar a custódia a um dos pais e não haver cá partilhas?

Tomar partido por alguém sabendo apenas a versão de um lado é errado; por isso abstenho-me de dar a minha opinião sobre este caso - até porque eu de jurista tenho zero e percebo ainda menos que zero destas coisas de leis e direitos e deveres quando mete filhos (até porque ainda não tenho nenhum). Agora que é algo que merecia uma resolução definitiva sem que os advogados de ambos os lados andem a deixar passar o tempo e a deixar arrastar ainda mais a coisa, ai isso merecia. Mais que não seja, pelo bem da criança - afinal de contas a "responsável" por toda esta situação e a que menos culpa tem nesta autêntica novela... e de quem toda a gente se esquece enquanto arrancam os cabelos uns dos outros. É triste.

disfunção original de Carlos Loução às 23:31

Twitter button
Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
Twitter
enviar spam
Fevereiro 2024
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
16
17

18
19
20
22
23
24

25
26
27
28
29


vasculhar
 
Disfunções mais velhas que a sé de Braga
2024:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2023:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2022:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2021:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2020:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2019:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2018:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2017:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2016:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2015:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2014:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2013:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2012:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2011:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2010:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2009:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2008:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2007:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2006:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


2005:

 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


Networked Blogs
origem
subscrever feeds
blogs SAPO