06.11.15

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Toda a gente sabe o que são melões. Sim, antes de mais, é um fruto ainda relacionado com as melancias. Mas os melões têm outra "aplicação prática": Dizermos que "estamos com um melão" é do mesmo calibre de "estar com azia": ficarmos lixados da vida por causa de alguma coisa que não nos correu de feição. Normalmente aplica-se (mas não é exclusivo a) ao futebol, quando a equipa por quem torcemos perde um jogo. Como não tenho mais nada para colocar no web-log e apetece-me dar vida à coisa, e como, por estes dias, só se tem falado mesmo do guerras parvas entre gentes do Sporting e gentes do Benfica, e sabendo que eu sou um benfiquista assumido, vou relatar a primeira vez que me senti com um melão enorme.
Estávamos no dia 16 de Maio de 1993. Nesse dia jogava-se a 31ª jornada do campeonato, e o Benfica estava na frente com um ponto de vantagem sobre o FC Porto. Nessa tarde ambos jogavam fora de cada: Os azuis-e-brancos iam a Trás-os-Montes jogar com o lanterna-vermelha e já condenado Desp. Chaves, enquanto os encarnados iam a Aveiro bater-se com o Beira-Mar, ainda a lutar por um histórico apuramento europeu, no complicadíssimo Mário Duarte, onde o Sporting já havia deixado um ponto. Como sempre, acompanhei o jogo do Benfica pelos relatos radiofónicos da Renascença, nos tempos em que realmente valia a pena fazê-lo, com sete ou oito jogos a decorrerem ao mesmo tempo, os golos a acontecerem ao mesmo tempo em estádios diferentes... De facto era uma outra era, mais interessante que a actual. Mas adiante.
O Chaves – FC Porto era à noite, portanto o Benfica tinha de ganhar para fazer pressão nos azuis-e-brancos e manter a liderança; só que os “encarnados” não conseguiam fazer nenhum golo ao Beira-Mar. As coisas complicaram-se aos 60 minutos, quando o Yuran viu o segundo amarelo e foi expulso. Nessa altura a minha mãe veio ao meu quarto dizer-me que íamos sair, visitar uns tios meus. Não tive outra opção senão ir, embora de má vontade – e de coração apertado, porque o Benfica não marcava... Mesmo assim, o rádio do Yugo 45A (sim, nós tivemos um carrito desses!), por cortesia ao pirralho, lá foi na Renascença. Sempre que alguém interrompia com um "GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOO" eu fazia figas para que, a seguir, o relatador acrescentasse um "DO BENFICA!!"; todavia isso nunca aconteceu; e eu a começar a ficar nervoso...
Os minutos foram passando, comecei a roer as unhas até aos cotovelos (mentira, nunca roí uma unha que fosse na vida) e a sentir as palmas das mãos húmidas, rezando a todos os santinhos para que o Rui Águas ou o JVP, ou o Rui Costa, ou o Paneira conseguissem bater a bem ordenada defensiva aveirense e fazer o golinho que assegurasse a vitória e a liderança. Mas o Benfica não marcava...
Até que surgiu mais um "GOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOO...", e, como sempre, fiz figas; só que, para meu grande desgosto, o que veio a seguir foi "... DO BEIRA-MAR!" Tinha sido o Dino, o terrível Dino, o Dino Furacão, cujas orelhas pareciam um prato duma antena parabólica, a fuzilar o Silvino e a fazer o 1-0. Já não havia tempo para muito mais. O Pacheco ainda seria expulso, para ajudar à festa, e o Benfica acabaria o jogo derrotado e com nove jogadores. E com a liderança em perigo.
Escusado será dizer que nessa tarde não tive apetite para muito mais. A visita aos meus tios teve o condão de me deixar ainda mais aziado porque o meu tio era um sportinguista fanático e fartou-se de gozar o bocado, a mandar bocas e a picar, tudo isto enquanto se preparava para ir para o clube ali da zona ver a bola, ver o Chaves – FC Porto (durante anos pensei que fosse ver o Sporting, pois equipou-se como tal, de cachecol e bandeira – mas esses já tinham jogado na véspera, no Funchal, perdendo 2-4 com o Marítimo) e ele queria ver o jogo com os amigos. Recordo-me que, após ele ter saído, eu meti a língua de fora na direcção da porta da rua, irritado (e porque não dizê-lo, aziado) com aquele gozo e porque na altura a minha mente de puto não pensei em nada de melhor para lhe responder. Ainda ficámos com a minha tia mais um bocado, os meus pais e ela na conversa, eu a remoer, até que viemos embora para casa. 

À noite, e apesar de “para lá do Marão mandarem os que lá estão” (o que não havia acontecido muito naquela época), oo Chaves deu luta, mas no final o FC Porto arrancaria uma vitória por 2-1 que confirmava a ascensão à liderança do campeonato – de onde já não sairia.

Hoje em dia não me tenho sentido muito afectado pelo futebol, pelo que não tenho sentido muitos melões (só mesmo em 2013, com a farândola de "minutos 92"), apesar de, está época, ter recebido atoardas a torto e a direito de sportinguistas emproados porque “nos roubaram o Jórjus”, porque ganharam a Supertaça ao Benfica, vão à frente do campeonato e ganharam convincentemente na Luz. Lá está: por mim, podem fazer ou dizer tudo desde que me deixem em paz – todavia, se me provocarem, desejo que vos caia um peso de 16 t em cima. No mínimo.

disfunção original de Carlos Loução às 13:41

31.07.13

Ora bem, como o primeiro post do período de férias até saiu, siga lá vomitar mais um bocado de peçonha. O tema de hoje é sobre um fenómeno recente, visto muito nas redes sociais (obviamente), mas não só: o "fangirlismo".

Para os que não andam pelo Twitter ou pelo Facecoiso (ou seja, quem não tem computador, o que faz deste parágrafo algo supérfluo), uma fangirl é um elemento, por norma, do sexo feminino (há excepções a este caso, atenção), que basicamente vive para determinados jogadores de futebol. Estais a ver, aqui há uns aninhos, as teenagers que tinham as paredes decoradas com posters do João Vieira Pinto, Nuno Gomes, Beto e outros que tais? Pois, é algo do género - só que elevado à centésima potência. Estas adoptam nicknames alusivos ao jogador que adoram (seja com o nome dele, seja com o número que tem na camisola), criam páginas de apoio ao jogador no Facebook ou contas com o mesmo intuito no Twitter, replicam até à exaustão fotos, notícias, vídeos e tudo o que se relacione com o atleta em questão. E depois vão para o estádio apoiá-lo (podem ir apoiar a equipa por quem ele joga, atenção; mas em primeiro lugar sempre ele, depois o clube) com grandes cartazes a pedirem a camisola dele, bandeiras do país dele cheias de fotos dele, ...

Há um caso em especial que me faz dor de dentes. Como toda a gente que anda nesta coisa das redes sociais sabe, um dos jogadores com mais seguidores é o Salvio, do Benfica. Como seria "normal", existem inúmeras fangirls dele. Uma delas chega a ser obcecada ao ponto de enviar presentes ao Salvio, à mulher e aos filhos deles. Para além, claro está, de centralizar a sua vida em redor do Salvio, da defesa irracional do Salvio. Para esta pessoa, ele nunca joga mal, é o melhor jogador do mundo e é melhor que o Cristiano e o Messi juntos.

Depois há quem leve a coisa ao extremo. Há quem vá ao estádio com cartazes de "saudades" por jogadores (os ídolos) que lá jogaram e que entretanto saíram do clube com conotação de mercenários, há quem tenha orgulho em jogadores que nunca fizeram nada de jeito quando andaram em Portugal... e depois há aquelas que até molham as cuecas quando um deles lhe diz alguma coisa, ou faz um retweet a um tweet delas sobre eles (e o colocam na sua biografia a data, hora e nome do atleta que lhes dispensou um segundo de atenção!)

Eu sei que sou um gajo parvo (hoje tive mais uma confirmação disso mesmo), mas pertenço àquele grupo de pessoas que acha que os jogadores de futebol são pessoas como eu, como qualquer um. Se abrissemos um deles, veríamos que têm dois pulmões, um coração, um estômago, uma carrada de metros de intestinos... tudo normal. Não são deuses. São apenas pessoas que jogam bem futebol - e são pagas a peso de ouro para o fazerem. Há mais pessoas a merecerem veneração e admiração do que eles... e que nunca receberão este tipo de reconhecimento. Tudo porque não sabem dar um chuto numa bola.

Que sociedade de merda.


NOTA: utilizei aqui mais o exemplo do Twitter pois é a rede social que mais frequento. Todavia no Facecoiso o funcionamento é idêntico.

disfunção original de Carlos Loução às 20:40

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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