04.07.14

Ontem à tarde/noite (abençoado Verão!), depois de jantar, cheguei ao Twitter e comecei a ver malta a falar da morte de Rui Tovar. Encolhi os ombros, divertido: na Internet "mata-se" gente todos os dias (o Bonga e o Camilo de Oliveira que o digam). Todavia, quando começaram a surgir os sites de notícias a confirmarem o óbito, confesso que me caiu tudo. Acho que ainda agora estou em negação, achando que tudo não passou de um engano, que viram uma pessoa parecida com ele no hospital, que entretanto morreu, e que a partir daí induziram toda a nação em erro - diria que a Comunicação Social portuguesa é perfeitamente capaz disso e de pior. É que ainda era demasiado cedo para o Rui Tovar nos deixar. Havia ainda imensas histórias que ele tinha para contar a esta nova geração de amantes do desporto-rei, muitas lições que ele tinha a dar aos pseudo-comentadores de futebol dos dias de hoje.

Rui Tovar não precisava de soltar "uish" sempre que havia um remate perigoso, nem precisava de utilizar palavras caras saídas de um qualquer livro (ou de as inventar!) para mostrar que sabia o que estava a dizer. Nunca consegui perceber a sua preferência clubística - acho que sempre acreditei que Rui Tovar não torcia por nenhum clube em especial ou, por outra, apoiava-os todos, sendo genuinamente alguém imparcial. As suas crónicas e comentários sempre foram claros e concisos, não floreando, dando os factos como eles eram. Não me recordo de o ver entrar em polémicas com arbitragens - talvez seja uma falha de memória minha. E acho que a sua presença no "Domingo Desportivo" acabou por ter alguma influência na minha forma de ver e ouvir futebol.

O homem pode ter partido, mas a sua obra fica. Autor de muitos livros, jornalista de muitos jornais ao longo da carreira (foi mesmo vítima do Verão Quente de 1975, saneado do "Diário de Notícias" por ordem de... José Saramago), gostava de destacar o "Almanaque do Benfica"1, obra incontornável e que agrega, num volume de 700 páginas, todos os jogos oficiais que o Benfica disputou, desde o tempo "de andar com as balizas às costas", todos os jogadores, treinadores e presidentes que passaram pelo clube e estiveram envolvidos na história do clube. Obra incontornável para alguém como eu, um amante das história e das histórias do futebol (o meu exemplar está cheio de notas, risquinhos e correcções feitas por mim ao longo dos anos que o tenho). Todavia, não julgai que isso define as suas tendências clústicas, pois também tratou dos seus equivalentes, o "Almanaque do Sporting" e o "Almanaque do FC Porto", de idêntico valor arqueológico para os adeptos desses clubes, e do "Almanaque da Selecção - Edição Campeonato Europeu de 2004", lançado antes dessa competição, com dados sobre o Euro'2004 (equipas, jogos, estádios), história dos Campeonatos da Europa... todos os jogos realizados pela Selecção de Portugal até Fevereiro de 2004 e todos os jogadores que vestiram a camisola das quinas. Muitos destes hercúleos trabalhos foram desenvolvidos com a ajuda do filho Rui Miguel Tovar, que, diria eu, segue as pisadas so pai no que respeita aos seus créditos como jornalista desportivo. É ele que trata da conta de Twitter de Desporto do jornal i, sempre com isenção e bastante humor, e tem também já alguns livros que vale a pena ler, livros com histórias do futebol português de sempre, ou da década de 80.

Apenas me resta agradecer ao Rui Tovar por todo o seu trabalho, e quero acreditar que, hoje, ele estará ocupado com algo deste género. Que descanse em paz.

 

 


 

1- Existem já três versões deste Almanaque, pelo menos: a primeira (Edição Centenário), actualizada até 2003, a segunda, até 2012, e a última, até este defeso. Estas duas últimas versões já foram feitas sob o comando do seu filho Rui Miguel Tovar.

música: Vangelis - Antarctica
disfunção original de Carlos Loução às 17:37

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