13.02.23

What-to-do-if-your-child-is-addicted-to-ipad-min.p

Vivemos tempos muito complexos. Temos tudo ao alcance dos dedos (muito mais que no tempo das Páginas Amarelas) – contando, claro está, que se tenha um dos denominados smartphones e um pacote de dados generoso. Ora isto é muito bom se tivermos uma dúvida qualquer no momento (o "tio Google" raramente se engana)… mas traz-nos diversas desvantagens, que afectam principalmente a geração mais nova.

Às vezes, por graça, digo que ser-se pai nos dias de hoje é fácil: basta consumar o acto, esperar nove meses e depois entregar-lhe um telemóvel para as mãos. Isto é um exagero, claro, mas a realidade por vezes não anda muito longe disso. Quantas vezes vamos a um restaurante e vemos casais com os filhos agarrados a um smartphone para aturarem sossegados durante a refeição? Quantas crianças chegam a casa depois da escola que se vão logo agarrar ao tablet ou ao telemóvel dos pais para verem bonecos a tarde inteira até à hora de jantar (ou mesmo depois) porque os pais ou familiares não se estão para se chatear com aquela coisa da educação?

Claro que isto depois causa problemas a quem tem a tarefa de lhes tentar ensinar alguma coisa na escola. Tentar-se ensinar, por exemplo, viola campaniça ou modas alentejanas a crianças que têm a cabeça cheia de TikTok, Reels do Instagram e vídeos de bonecos ou de sucata no YouTube acaba por se tornar tão produtivo como tentar dar banho a um gato bravo. Sai-se da sala de aula desmotivado porque não se conseguiu que meia-dúzia de alunos aprendessem a cantar uma moda como "Dá-me uma gotinha de água", enquanto a rapaziada regressa a casa para continuar a absorver sucata do Enaldinho ou do Luís Bafo Bafo (não consigo encontrar melhor termo, desculpem) e passarem toda a semana a espalharem essa mesma sucata uns com os outros. Poder-se-á argumentar que têm de ser os professores a encontrar alternativas para tornar o ensino da cultura popular mais atractivo para a malta que está agora no 1º Ciclo, e talvez eu seja capaz de concordar com isso; agora, apresentem-me uma receita que resulte. Não acho que tenha de ser eu a dizer aos pais ou encarregados de educação dos alunos "proíbam os vossos filhos de ver sucata nos telemóveis" – ou, melhor ainda, "não entreguem telemóveis ou tablets aos vossos filhos" – pois não sou ninguém para dar conselhos do que fazer a respeito de parentalidade.

Para alguém que gosta de ensinar e gosta de transmitir o pouco que aprendeu em quase um quarto de século como tocador de viola campaniça, é absolutamente destruidor e desmotivante ver meninos e meninas a fazer dancinhas vistas no YouTube no meio da aula e a resistirem a aprender o que (ainda) resiste das nossas tradições. Talvez o problema seja meu, no meio disto tudo, que não estou preparado para lidar com quem não quer aprender ou que, pura e simplesmente, não consegue tornar o ensino uma coisa apetecível e não se adapta às novas tecnologias.

Tudo porque às crianças metem um smartphone ou tablet nas mãos para os manterem sossegados e nem sequer se importam com o que eles vêm. O que importa é os meninos e meninas estarem sossegados e não chatearem. Depois queixam-se, daqui por uns anos, que têm filhos mimados e mal-educados, mal-preparados para a vida. Mas isso é depois, eles que se amanhem. O que importa é estarem sossegados agora.

disfunção original de Carlos Loução às 18:05

15.10.22

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As redes sociais, em especial aquele esgoto horroroso chamado Facebook, são um belo e esclarecedor espelho de como somos um povo fã de aparências, do falar bem e do fazer publicações para o “like”.
Esta introdução serve para praticamente tudo, mas hoje vou utilizá-la para lançar uma questão que me deixa um nadinha azedo (“também ficas azedo com qualquer merda!”), que é olhar para aquelas pessoas que abandonaram a sua terra natal à busca de uma vida melhor, depois vão para os grupos dos naturais dessa terra dizerem-se cheios de saudades da sua terra natal… sem, contudo, voltarem a lá colocar os pés.
Vamos por partes. Nada tenho contra quem teve de sair das aldeias, do Interior, de Portugal, rumo à cidade ou ao estrangeiro em busca de condições de vida dignas, quiçá de constituir família e que, com o passar dos tempos, acaba por se fixar nessa nova terra e tornar-se “natural” dessa terra. É algo perfeitamente normal e natural da condição humana procurarmos o nosso bem-estar, e se não o encontramos nas imediações temos de ir atrás dele. O que me irrita solenemente é olhar para os grupos (ou comunidades, agora…) de naturais e amigos da minha aldeia (ou “da aldeia de onde são os teus pais e que tu adoptaste como tua”) e, a cada publicação que lá é colocada, seja uma fotografia antiga, um vídeo ou a publicidade a um evento futuro, ver pessoas que nasceram na aldeia mas que estão longe a repetirem o mesmo discurso de “minha rica terra tenho tantas saudades do monte onde nasci da fonte onde íamos a água saudades muitas saudades” e que, em 52 semanas que o ano tem, não conseguem arranjar uma que seja para visitarem a terra que os viu partir, nem sequer no período das festas que é o mês de Agosto. Ainda por cima quando nessa altura existem tantas actividades para ocupar o tempo de quem nos visita (e nisso esta minha freguesia é abençoada). Será que as pessoas ganham pontos nisto do jogo da vida se mostrarem que têm “saudades muitas saudades”? Likes claro que ganham, e também uma chuva de comentários “é verdade amigo/a outros tempos que já lá vão um dia temos de nos encontrar” e seus derivados, e claro está que as redes sociais não passam de uma feira de vaidades onde todos nós fingimos ser os maiores da nossa rua mesmo que não tenhamos onde cair mortos, mas… vale mesmo a pena fazer estas figuras? Ainda por cima deixando ao abandono as casas e os montes onde nasceram e foram criados, onde tiveram as primeiras brincadeiras e onde começaram a ser gente? Como é que podemos dizer que temos “saudades muitas saudades” da nossa terra natal e depois deixamos que a casa que era dos nossos pais (e algumas mesmo dos avós) degradar-se e ruir, que os terrenos que dantes eram cultivados fiquem entregues às estevas e às silvas?
Todavia, há ainda um grupo de pessoas que me consegue deixar ainda mais azedo: são os que, para além das características acima referidas, ainda se acham no direito de dizerem aos “pacóvios” que ficaram na terra natal (ou aos que saíram e entretanto já regressaram) como devem viver. Lembro-me de um episódio que aconteceu há semanas, aquando da realização da feira anual da aldeia, em que, entre os comentários pejorativos derivados do facto de as barracas de tendeiros não serem muitas (intercalados por comentários de “saudades dos tempos que a feira tinha gado era uma animação ver os rebanhos de gado saudades muitas saudades” e de “saudades das feiras de antigamente essas é que eram boas o tempo tudo leva saudades muitas saudades”) surgiu uma pessoa a dizer que a feira devia de se reinventar para o século XXI. Muito bem, disse eu, então que ideias sugere para a feira?
*som de grilos*
E é isto. Dizer que “tem de se fazer!”, todos dizem, rasgam as camisas e batem no peito a dizer que amam a terra que os viu nascer mas que depois nem são capazes de dar uma simples ideia para mudar algo para melhor nessa mesma terra. Acrescentam ainda alguns que têm saudades da sua terra… mas de quando esta tinha muitos habitantes. Se se preocupassem em regressarem por uns dias aos seus montes e às suas casas de antigamente, veriam que até temos muita gente, a maioria estrangeiros, é um facto, mas até temos, de tal forma que a escola primária da sede de freguesia tem jovens suficientes para ter duas turmas (o privilégio de se ter uma professora por cada ano escolar continua reservado aos grandes centros urbanos, infelizmente).
Por isso, se têm “saudades muitas saudades” da vossa terra natal, visitem-na de vez em quando, venham matar essas saudades das pessoas que cá ficaram (ou entretanto regressaram), mas não se metam a proclamar que morrem de saudades se não estão a pensar lá voltar a meter os pés na vossa vida, que isso faz-vos parecer um bocadinho hipócritas. Só um bocadinho.

disfunção original de Carlos Loução às 09:13

01.07.15

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(f...-se, que hoje abusei no tamanho do título...)

Durante anos, os Estados Unidos da América foram a terra do "sonho americano", onde qualquer pessoa podia seguir o seu sonho e atingir o sucesso. Nos dias de hoje, todavia, eu diria que os States já foram ultrapassados por um país bem mais pequenino: Portugal. E isto porquê? Porque não há idiota nenhum que não consiga ter sucesso - bastando, claro está, "cair em graça".

Quer dizer, todos nós reclamamos que Portugal é um país governado por ladrões e oportunistas, que se movem unicamente para encher os seus próprios bolsos: esse tema é longo de discutir; mas, se damos oportunidade de outros oportunistas e idiotas singrarem na vida e encherem-se de papel, que moral temos para reclamar dos engravatados partidários?

Mas enfim, essa questão ficará, possivelmente, para outra altura.

Esta posta (nome bonito, diga-se... deve ser do cheiro a peixe podre) é motivada por um acontecimento do dia de hoje que marcou a minha vida por completo: peguei num livro do Pedro Chagas Freitas. E li duas páginas do mesmo. A minha conclusão foi apenas e só uma: como é que é possível algo tão vazio de substância vender tanto, por Deus? Como é que é possível um livro cheio de frases órfãs de interligação entre elas estar nas listas dos livros mais vendidos em Portugal? Vejamos aqui alguns excertos retirados ipsis verbis até no formato e tudo:

      hoje estou triste porque não escreveste para mim,

      quando fazes beicinho o sol concentra-se no interior dos teus olhos, e tudo à volta escurece,

      e aqui estou eu a escrever,

      já estás a ficar melhor, estás?,

     o teu corpo contra o ar é uma espécie de atestado de incompetência para a natureza, como pode a matéria interromper o correr do tempo?,

      podia escrever hoje sobre o sorriso do teu biquini junto à piscina,

     as vezes que te amei nos meus pensamentos, e de que maneira, é melhor nem te dizer para não te chocar,

      desculpa,

      mas em todos os pensamentos acabámos com um orgasmo,

      que maravilha,

      és tão casta e tão esfomeada,

      no lugar onde estou já te despi várias vezes, e é possível, sim,

     não te rias e me venhas com essa ideia quadrada de que só se despe uma vez, porque depois está despido já,

      não está, amar-te é despir-te várias vezes no mesmo corpo, como se houvesse camadas de nudez,

      e há, só quem nunca se despiu ainda não o percebeu,

      está a ficar bom o texto?, serve-te para me quereres para todo o sempre?,

      (...)

 

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A sério, há alguém a quem esta ladaínha toda faça algum sentido? Confesso que li uma página para a frente, para trás, de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda e continuei sem perceber um cartucho daquilo. Também pensei que o livro estivesse escrito num idioma próximo do português mas cujas palavras tivessem significados diferentes - neste momento, é a única ideia que para mim faz sentido.

Gostava de conhecer uma confessa apreciadora dos livros e textos do Pedro Chagas Freitas; gostava que ela me explicasse qual a mensagem escondida no que ele escreve. É que, do meu ponto de vista, os conteúdos dos canhenhos de sua autoria são coisas que parecem sair de um gerador de textos aleatórios, que junta frases sem qualquer sentido umas com as outras, sem que haja um princípio, meio ou fim declarados e confessos, sem que haja um mínimo de fio condutor em todas e quaisquer páginas? Será que isto dos livros é como aqueles quadros que não passam de rabiscos ou esculturas que não passam que perfeitos mamarrachos e que, nos leilões são arrebatados por centenas de milhões de euros? Ou será esta a resposta feminina (sim, porque, convenhamos, a maioria de leitores dos livros do Pedro Chagas Freitas pertence ao sexo oposto) a revistas como a Penthouse, Playboy, Maxmen (nem sei se elas ainda existem, mas vocês percebem a ideia) ou a jornais, publicações em que não é preciso gastar muita massa cinzenta para as compreender?

Confesso que eu sou da velha guarda, prefiro ler livros com um fio condutor, que me prendam à acção, que me façam não o conseguir largar até chegar à última página, sem chegar ao final da meada, sem chegar àquela palavra de três letrinhas que assinala o término do livro ('fim', para os mais distraídos). Gosto de livros que me façam sentir que não dei o meu tempo por perdido ao dedicar-me à sua leitura. E isto, lamento... mas, durante os cerca de dois minutos que perdi a tentar decifrar os textos contidos naquelas páginas, senti neurónios a definhar e morrer sob gritos de agonia extrema. O que já me deixa com poucos...

Podia acabar este desabafo com um "eu consigo escrever melhor que aquilo!" e colocar, como prova, um link para um outro projecto que eu tenho, mais underground, de textos de cariz mais picante. Todavia, como poderíeis apontar e bem, ele está cheio de chuchu (ou tão cheio de chuchu como um escritor em Portugal pode ter), enquanto eu não passo de um gajo com uma fanbase exponencialmente reduzida (se é que existe, de facto).

Touché, meus caros. Touché.

música: Airwave - Candy of Life
disfunção original de Carlos Loução às 21:50

07.05.15

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Este vai ser o meu último post neste web-log - ou em qualquer outra coisa. Não por minha livre e expressa vontade, atenção: apenas acho que, depois disto, haverá pessoas que não vão descansar enquanto não me queimarem vivo no meio de alguma praça porque, graças a Deus, todos somos Charlie e todos temos direito à nossa opinião - contando que essa opinião seja condizente com a da maioria. Mas quero lá saber. Ao menos morro feliz, sabendo que alguém ainda passa algum cartão às minhas disfunções - nem que depois me dêem cabo do canastro.

Durante muitos anos, a sociedade estava bastante simplificada: o homem a trabalhar, a mulher em casa a cuidar dos filhos. Não vou estar aqui a dizer que "assim é que era bom", pois nem sequer é a minha convicção - estou apenas a constatar um facto. Com os anos e a chegada dos novos ventos da liberdade, o ser feminino achou que bastava de estarem sob o jugo tirano do machismo e começaram a reivindicar direitos. Mais uma vez, nada contra. Especialmente nas aldeolas, muitas delas nem à escola iam ou saíam com menos que a 4ª classe, por isso, não vejo mal nenhum insurgirem-se por mudanças e por desejarem uma sociedade mais equalitária, com oportunidades iguais para todos.

E assim, com avanços e recuos nesse aspecto, chegamos aos dias de hoje. A igualdade dos sexos ainda não existe - mas está muito melhor do que há quarenta anos (pudera!). Todavia, por causa disso, tem havido uma corrente no seio feminino (o trocadilho não é de propósito) que, em vez de lutar por essa igualdade, prefere antes defender a superioridade feminina e que "nós somos as maiores e damos abada a qualquer homem que nos apareça à frente, gostamos de foder fazer amor à louca em qualquer parte e aguentamos com tudo o que nos atirem para cima e nós é que precisamos de ter os direitos todos, vocês, homens, têm é de comer e calar porque vocês já mandaram muito em nós!" E tratam de ocupar barbearias onde não é permitida a entrada a mulheres alegando que "o princípio de igualdade deve fazer parte de todo e qualquer serviço ao público" esquecendo-se, porventura, dos ginásios exclusivos para mulheres que existem um pouco por todo o país - e que, se fossem ocupados por algum grupo masculino, cairia o Carmo e a Trindade acusando-os de "chauvinismo", "machismo", "ataque à igualdade de direitos" para além de algumas outras coisas que me estarão a escapar. Da mesma forma que houve um real escabeche por o cientista responsável por aterrar uma sonda no cometa Churyumov–Gerasimenko, em Novembro último, foi obrigado a retractar-se por ter aparecido em público usando uma camisa com meninas semi-descascadas - e há tanta menina que se indignou por isso que, se for preciso, passa os dias no Facebook a colocar fotos de homens semi-nus ou a comprar calendários com bombeiros semi-despidos lá fotografados. Da mesma forma que não vejo protestos pela desigualdade que existe quando se sai à noite para um bar, quando elas têm entrada garantida em qualquer discoteca ou bar e com cartões de consumo mínimo relativamente baixos, ao passo que o homem tem de se sujeitar a uma taluda mais elevada... e a poder ver a entrada barrada, especialmente se for sozinho. E nem sequer vou entrar no conceito das "ladies night"...

Portanto, nos dias de hoje, temos mulheres que querem que os homens caiam de joelhos a seus pés (ainda mais que o que acontece nos dias de hoje) e ao mesmo tempo as devorem na cama, segundo o que de vez em quando surge no site oficial do feminismo em Portugal, onde se reúnem as Marias Capazes desta selva à beira-mar plantada e debitam sentenças sobre o que é "ser mulher" e "como todas as mulheres deviam ser e pensar e agir". Onde se fala de sexo como quem fala do vestido da Kate Middleton - mas onde se abomina programas de cariz sexual em horário nobre, dando um exemplo hipotético.

Sinceramente, há coisas sobre as quais prefiro nem saber que existem - e uma delas é o que seria da sociedade se este núcleo feminista tomasse de facto conta do país ou do mundo. E, ao mesmo tempo, gostava de poder ter um vislumbre dessa realidade alternativa - um daqueles casos de "a curiosidade matou o gato".

E pronto, com estas linhas acabo o texto que me transformará num proscrito e num cadáver. Gostei muito de vos conhecer.

disfunção original de Carlos Loução às 22:09

18.02.15

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E pronto: os sacos de plástico disponibilizados anteriormente de forma gratuita nas superfícies comerciais passaram a ser taxados pelo Estado. Para além dos gritos useiros e vezeiros destas ocasiões de "Qualquer dia taxam-nos até o ar que respiramos!", o que este acto acabou por resultar é em ver muita gente passar a trazer sacos de casa ou em andar com aqueles recicláveis de 1€ (ou mais, sinceramente atirei o valor ao ar) e meter tudo lá dentro. Bom, se formos a ver, a malta ia ao hipermercado, comprava dez itens e levava dez sacos para casa, cada um com uma coisa. Mas já sei que, dizendo-se isso, as pessoas poderiam dizer "os sacos não gratuitos? Não estou no meu direito de levar os que eu quiser? Então eu levo os que eu quiser!", o que acaba por ser mau para o ambiente, blá blá blá. Por isso, recorre-se à segunda mais fácil e primitiva forma de se inibir o ser humano de fazer alguma coisa: coloca-se um imposto sobre essa coisa.

Agora o que me causa alguns fornicoques no cérebro é ver malta dizer que é uma injustiça retirarem os sacos, que é um direito dos consumidores terem-nos à sua disposição. Meus amigos, eu aconselhava-vos a fazerem uma pequenina imagem no tempo, para o tempo em que não existia grandes superfícies coemrciais cá por Portugal, para o tempo que os vossos pais, os vossos avós tinham de ir à mercearia da esquina (ou da aldeia mais próxima) fazer o avio para a semana ou para o mês, e não recebiam as compras em saquinhos de plástico! Todavia, os compradores iam munidos da sacola de serapilheira ou do cesto de vime, ou daquelas fitas que uniam as paletes de tijolos, colocavam as compras ali dentro e seguiam felizes e satisfeitas da vida (algumas queixando-se das cruzes, mas isso todos nós teremos, se lá chegarmos). Só que, com o tempo, como sempre, fomo-nos acostumando à ideia de termos os saquinhos de plástico à là gardère e agora, que eles passaram a custar a exorbitância de 0,10€ (que, para quem compra muita coisa, realmente é algum custo acumulado), em vez de pensarmos em voltar a este hábito de dar trabalho aos pobres artesãos que ainda se dedicam a esta arte de criar cestos e cestas e sacolas e o mais, optamos antes por reclamar da injustiça que é taxarem-nos os sacos de plástico.

Não ao saco de plástico! Sim à cesta de vime (à falta de melhor chavão para comcluir este post... olha, vai assim mesmo)!

 

PS: o post anterior desta xafarica foi tão bom, tão bom, tão bom que até mereceu destaque no Sapo. A todas as pessoas que se enganaram e vieram cá parar: as minhas desculpas. Manter a bitola era dificílimo: é que aquele post saiu bonzinho, os restantes são assim p'ró merdosos.

disfunção original de Carlos Loução às 14:20

12.02.15

50_shades_of_Grey_wallpaper.jpg

Antes de mais...

O


 

Pronto, agora que já metemos a bolinha vermelha no canto do post, continuemos.

Nesta altura do Dia de São Valentim, aparece de tudo um pouco para apelar aos corações dos casais de namorados. Como se a tarefa masculina não estivesse já dificultada por termos de adivinhar o que é que o outro lado da barricada gostaria de receber por esta altura, na edição de 2015 as dores de cabeça para os homens serão ainda maiores, pois, para além de uma prenda catita, as caras-metade querem que eles passem a ser uns "Christian Grey" que as amarrem à cama e lhes façam amor louco e furioso com as mesmas. Tudo por causa do filme que acabou de estrear e que é baseado na trilogia das "50 Sombras de Grey", uma espécie de "Corin Tellado" do século XXI mas com correntes e algemas. Não li os livros - nem sequer faço tenções disso - mas quase calculo que consigo descobrir o enredo: uma jovenzinha inocente apaixona-se por um milionário rico e giro que a seduz e a acaba a introduzir ao BDSM. Basicamente, aqueles livrinhos bons para solteiras com cerca de vinte gatos em casa e que continuam à espera do príncipe encantado ou para donas de casa fartas da aborrecida vida sexual e que esperam que, do nada, os maridos se transformem nuns Chistian Grey e que lhes comecem a dar com uma paddle no nalguedo, as amarrem à cama e assinem um contrato em como elas passam a ser propriedade deles.

Eu sempre tenho tentado viver as coisas sob um prisma de que tudo é possível e permitido a um casal desde que haja a) maioridade de todos os intervenientes e b) consentimento de todos os intervenientes. Por isso, não condeno a malta que pratica o BDSM como deve ser, com todas as suas regras e preceitos, e que se tentem mudar algumas mentalidades sobre isso, por forma ao resto do mundo em geral não considerar os BDSMitas como uma cambada de depravados que se vestem de cabedal e látex e fazem "cenas malucas". Nada contra. A porca torce o rabo é quando começam a aparecer miúdas que lêem o livro e/ou vêem o filme e pensam "meu Deus, eu quero tanto ter um Grey na minha vida" e desatam à procura do primeiro gajo que seja giro, rico e que lhes dê porrada e as domine - e que depois se queixam de terem sido agredidas, de não ser nada daquilo que queriam e tal e coiso. Vamos ser sérios: a história só funciona e só tem tanta atracção porque o personagem alfa da coisa é um homem bonito e rico; caso não tivesse essas duas características, encolhia-se os ombros, era giro e tal e partia-se para outra. E só deixamos fazer tudo o que quisermos à outra pessoa se ela for rica e bonita, basicamente. Se o Grey fosse uma espécie de corcunda de Nôtre Dame, aproximasse-se da Anastasia e lhe sussurrasse ao ouvido com voz fanhosa "quero amarrar-te e fazer amor louco contigo", ela pregava-lhe com um banco na cabeça e fugia dali a sete pés. Não me lixem!

Caríssimas, lerem um livro de ficção/romance erótico e/ou verem um filme sobre o mesmo não faz de vós experts em bondage, em sadomasoquismo ou em merda alguma, para ser sincero. Que sirva para apimentar a vida sexual, tudo bem - e as lojas de artigos sexuais já estão a esfregar as mãos de contentamento com a enxurrada de compras que ai vem - mas armarem-se em submissas apenas para terem um bonzão a dizer-vos que vos quer como submissa é... como hei-de dizer?, uma fantasia, nada mais que isso. Daquelas semelhantes às dos homens fantasiarem com enfermeiras vestidas de látex justinho ou com mulheres cobertas de cabedal e botas de salto alto - e, muitas vezes, elas acontecem e acabam por se revelar uma tremenda desilusão. Por isso mesmo são "fantasias": boas para aqueles momentos em que estamos sozinhos e procuramos estímulo íntimo.

Se quiserem mesmo saber o que é BDSM, leiam, pesquisem (o Google é amigo), mas não se baseiem num livro de ficção de realidade zero. A sério. Ide por mim.

disfunção original de Carlos Loução às 21:07

05.12.13

E pronto, estamos nas ante-vésperas do Natal. Chegámos àquela época do ano em que andamos todos numa azáfama a desejar "feliz Natal" a todo o mundo e mais o outro. Àquela altura que começa, na realidade, em pleno mês de Novembro (ou antes, às vezes!), com o início das promoções natalícias das grandes superfícies.

Por outras palavras, uma época extremamente hipócrita.

Muita malta apenas se interessa pelo Natal por causa das prendas, isso é ponto assente. A hipocrisia está também naquele acto de desatarmos numa sanha desenfreada a enviar SMSs ou mails ou posts no Facecoiso a marcar toda a gente que temos lá como "amigos" a desejar um "Feliz Natal"... Para aí metade (e isto fazendo contas por baixo) das pessoas que tenho "amigadas" no Facebook não as vejo há mais de seis meses, nem faço ideia se alguma vez vou voltar a ver ou a ter qualquer espécie de interacção com elas, que também nem sequer fazem um esforçozinho também para dizerem um "olá" e mesmo assim tenho de lhes desejar uma quadra festiva feliz? Consigo ser um miserável sacana hipócrita mas também não chego a tanto, quer dizer...

Já não tenho idade para Natais, sinceramente. Quer dizer, gosto do ir à terra, gosto do lá estar de roda da lareira, de lá estar com os meus familiares (vá, alguns deles, não exageremos)... o resto é palha, dispenso. E as minhas gentes também, para ser sincero.

Por isso, cá fica a imagem costumeira do Natal, e siga mazé p'ró Ano Novo!

disfunção original de Carlos Loução às 15:55

17.09.13

Vivemos numa sociedade de merda. Isso já era ponto assente há algum tempo, é um facto. Todavia, sempre que me deparo com certas situações, não consigo deixar de me relembrar desse facto.

Creio que não é mal só dos portugueses, apesar de, por aquilo que me apercebo, nós sermos um povo altamente retrógrado. O mundo, no seu geral, é avesso a coisas diferentes, à diferença. Se transportássemos isto para sabores, se gostássemos todos de baunilha iriamos perseguir e escarnecer de quem gosta de chocolate, dos amantes do morango, e dos adoradores dos restantes sabores. Por isso é que existe discriminação, pela falta de respeito pela diferença.

Todo este sentimento surgiu agora por uma razão algo simples. Uma grande amiga minha resolveu dar um passo de coragem e escreveu um livro sobre um tema tabu como é o da dominação sexual (BDSM, amiguinhos: fujam!). Sim, não é inédito, especialmente tendo em conta que agora anda todo o mundo e um par de botas a delirar com ‘As Cinquenta Sombras de Grey’. Todavia, este livro é diferente, uma vez que, ao contrário dessa trilogia, é uma história real. E verdadeira. Trata da história de vida de uma dominadora, que é uma pessoa exactamente como eu, como quem lê (?) estas alarvidades minhas, com problemas na vida, com traumas, com paixões não correspondidas… e que apenas difere das pessoas ditas normais por ter uma forma diferente de procurar prazer.

Ora bem, mas onde é que eu queria chegar com tudo isto? Por esta altura, o livro já está nas bancas e, logicamente, agora é a altura de promoção do mesmo. Depois de um artigo na revista do DN/JN de domingo, segunda-feira foi o dia da ida à televisão. E, no “Você na TV” da TVI, lá apareceu a rapariga, no seu papel de Dominadora, ao lado da Cristina Ferreira. Desempenhou o seu papel, mesmo com alguns nervos, e até esteve bem. E, enquanto assistia à entrevista (e mesmo à posteriori, no Facecoiso da Cristina Ferreira, numa foto que ela colocou mesmo sobre a peça), ia estando com um olhinho nas redes sociais. E é precisamente aí onde se comprova que a sociedade – neste caso, o povo português – tem uma alta intolerância para com tudo o que é diferente, para tudo o que não é baunilha. Entre dizer-se que uma pessoa que gosta de dar chibatadas noutra tem uma doença mental, ou estarem focados unicamente no peito dela, ou de falarem na sua falta de coragem por falar por detrás de uma máscara (como se isso fizesse grande diferença, porque, ao que parece, o que se faz dentro de quatro paredes, com a consensualidade dos envolvidos, é motivo de perseguição – abençoado século XIX em que vivemos)… há sempre coisas a apontar por parte dos outsiders. Tudo por se ser diferente do rebanho e se ser diferente, por não se gostar de baunilha e se preferir antes comer chocolate. É estúpido. Porque, afinal de contas, o povão é todo púdico e até se benze quando aparece alguém vestido de cabedal de chicote na mão, mas, no fim de contas, correm para as sex-shops a comprarem algemas e vendas e brinquedos eróticos para imitarem o que vem nos “livros do Grey”. Sou só eu a denotar aqui alguma falta de coerência?

Talvez seja por eu ter demasiadas disfunções mentais…

 

PS: provavelmente sei que este texto poderá fazer com que muitas pessoas acabem também por me começar a apontar o dedo por querer sair fora do rebanho e ter uma opinião diferente. A esses apenas tenho uma coisa a dizer:

 

P’RÓ CARALHO!!

disfunção original de Carlos Loução às 09:39

01.08.13

Uma das chatices de estarmos de férias numa casa que não é nossa é que temos de nos adaptar ao que lá existe, uma vez que muito dificilmente a casa de férias dispõe das mesmas condições que a nossa habitação. Neste momento em que começo a escrever este post (ou esta posta?), daqui da rede, consigo bem ouvir na televisão os berros da Júlia Pinheiro. E confesso que estou a ficar com pele de galinha.

Eu devo mesmo ser uma pessoa limitada. Não consigo perceber a utilidade destes programas da manhã/tarde que hoje em dia e graças a Deus inundam a TV gratuita. Debatem-se os temas em foco na imprensa cor-de-rosa e nas redes sociais, entrevistam-se pessoas que na realidade não queremos ouvir, metem-se músicos a cantar em playback, publicitam-se produtos "milagrosos" para melhorar a saúde dos velhotes, arranja-se forma de sacar uns cobres à malta (a dona cá da casa, só à conta destes concursos, disse adeus a 50€ na factura do telefone do mês passado - e benefício zero)... e basicamente é isto. E é com programas iguaizinhos que se empregam todos os dias da semana umas seis, sete horas dos três canais principais cá desta frederica. A variante é nos apresentadores, pois os programas, seja de manhã, seja à tarde, são idênticos. E agora o formato alastrou-se também aos fins-de-semana, invadindo festas regionais e passando a ser o centro da atenção das mesmas.

Há-de haver muita gente a levantar as mãos a agradecer o facto da generalidade dos portugueses comerem gelados com a testa. De irem todos para o mesmo lado e adorarem este tipo de televisão vazia de conteúdo mas tão rica em futilidades, em coscuvilhice. Sempre que, por alguma infelicidade, tenho de perder algum tempo a ver este tipo de programas, sinto os meus poucos neurónios sobreviventes a agonizarem e a pedirem para lhes acabar com o sofrimento. Não se aprende nada com aquilo! Se eu quisesse ver algo perfeitamente estúpido e desprovido de significado, dedicava-me a ver a vida dos Kardashians, ou arranjava forma de andar vidrado na MTV... não precisava de ter isto também na TV portuguesa.

No dia que eu tome conta desta casa, a primeira coisa que faço é colocar aqui uma antena parabólica para me livrar deste martírio. Depois não tenho é luz para ver TV, mas isso será uma questão para essa época.

disfunção original de Carlos Loução às 12:49

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