Há coisas que, a mim, me fazem uma confusão tremenda.
Uma delas é, por exemplo, o porquê de não conseguir postar aqui regularmente.
Outra é o fanatismo que rodeia a selecção de futebol masculino sénior. E convém ser bastante específico, porque, caso seja a selecção de futebol feminino sénior, o que aqui vou relatar não se verifica. Nem tão-pouco com a selecção de futebol masculino de iniciados. Ou com a selecção de râguebi sénior. Ou com qualquer outro caso.
Quando a selecção masculina sénior de futebol portuguesa consegue o apuramento para uma grande competição por selecções, verifica-se algo que não se vê durante o resto do ano: todos os portugueses (OK, não serão todos, para aí cerca de 90-95%) tornam-se patrióticos, decoram as janelas, varandas, carros com as cores da bandeira nacional, saem do trabalho mais cedo (ou faltam) para se colocarem à frente duma TV que dê o próximo jogo da equipa das quinas, este género de coisas. E não admitem que haja uma outra pessoa, um portugues, que não embandeire nessa onda, que não apoie a selecção de Portugal. Como era mesmo o slogan? "Onze por todos, todos por onze"? Pois, há quem leve isto muito à letra: para eles, quem não apoia a equipa portuguesa (e, sobretudo, quem não apoia a Ronaldete e não ache que ele é o melhor jogador do mundo) é um traidor e incorre num crime de lesa-pátria, merecedor de ser atirado às galés ou de ser queimado num auto-de-fé digno do Santo Ofício. O que, tendo em conta que me insiro no grupo de pessoas que não apoia a selecção, ou faz uma festa com os golos do Queridinho Português (também conhecido como EsCRoque, CRe7ino, Cagalhão Real 7, and so on), me arrelia um bocadinho.
Todavia, até nem é isso que me faz muita confusão.
O que me faz confusão, basicamente é: se essas pessoas são tão defensoras de Portugal, se são tão amantes de tudo o que se faz neste rectângulo à beira-mar plantado, porque não reagem assim com tudo o que se por cá faz? Se quisermos continuar no ramo do desporto, porque é que não andámos por aqui a buzinar pelo Rui Costa (o ciclista, não o ex-jogador do Benfica) ter ganho a Volta à Suíça em Bicicleta, competição que apenas perde em termos de importância para as três grandes Voltas (Itália, França e Espanha)? Porque não abrimos noticiários com a notícia de que a selecção portuguesa de atletismo para atletas com síndrome de Down se tornou Campeã do Mundo? Porque ninguém ouviu falar da vitória de Pedro Lamy na categoria de profissionais/amadores das 24 Horas de Le Mans? Porque é que os jornais desportivos não ocuparam grande parte da primeira página com uma foto da Dulce Félix, Campeã Europeia dos 10.000 metros? Onde estavam esses acérrimos defensores de Portugal nessas alturas?
Mas não é tudo. É que, acabado o Europeu, com mais uma desilusão - e mais uma vitória moral, do género de "Portugal foi a única equipa que fez os campeões europeus suarem" - voltou a conversa do costume: que os políticos são ums filhos da puta, que o país é uma merda, que estamos entregues às grandes corporações, que se precisa de cunhas e tachos para se ter uma boa vida, que somos todos explorados... e aqueles que cantavam o Hino com a mão no peito e olhavam para todos os lados a ver se os vizinhos também o cantavam com a mesma emoção, pasme-se, são os primeiros a cuspirem ódio e acusações de que "este país é uma merda". Serei só eu mesmo a achar isto um bocadinho incoerente?
... ou então estou errado. Mas então expliquem-me como se fosse tremendamente burro. O que, bem vistas as coisas, tendo em conta que não apoio a selecção portuguesa...