29.01.11


Para quem me conhece, sabe que há coisas que, a mim, me fazem ferver o sangue. E, andando eu por fóruns ferroviários, uma dessas mesmas coisas acaba por ser, basicamente, quem constitui a comunidade entusiasta portuguesa. Os entusiastas em si.


 


O entusiasta português é um agarrado e quer ser o maior do bairro dele. Se formos aos fóruns ferroviários espanhóis, franceses, alemães e afins, encontramos lá fotos antigas, documentos históricos, e o mais, disponíveis um pouco para todos. Em Portugal, existem fóruns ferroviários aos pontapés, onde tudo está escondido (e aqui, contra mim falo, pois sou administrador dum que faz isto mesmo - pela razão que explico no ponto a seguir) - fóruns esses que foram sendo criados por querelas internas, conflitos e birrinhas. E este comportamento não se restringe só aos fóruns - até mesmo nas associações de entusiastas isto acontece. Mas adiante. O entusiasta português gosta de ter um baú onde coloca as suas fotos, onde as guarda leguisiosamente, quais tesouros, para construir o seu livro de memórias - ou apenas para as ter guardadas e a ganhar pó.


 


O entusiasta português gosta que os outros façam o trabalho dele. Gosta de copiar fotografias, dados e outas coisas de livros e dos próprios fóruns ferroviários sem sequer se importar em manter as fontes ou até mesmo esforçando-se por ocultá-las - razão pela qual, em Portugal, se "blindam" as coisas mais importantes e antigas.


 


O entusiasta português é um "velho do Restelo". Quer comboios a circular mesmo que não hajam pessoas para andar neles, defende ligações absolutamente despropositadas nem nunca as ter utilizado, acha que "isto era bom era no tempo do vapor" e abomina todas as modernices, TGV's e afins. Abomina também quem tem uma opinião contrária, porque "eu é que sei", e "os rapazolas de agora não sabem nada de comboios".


 


O entusiasta português só se mexe por sede de protagonismo. Ainda me lembro duma história que aconteceu com o passeio da 2501 à Barquinha, em Outubro de 2009. Houve um maquinista da CP que andou muito envolvido com a locomotiva, com o processo de adopção dela pelo MNF, com a troca de pantógrafos. A partir do momento que ele não foi o maquinista designado para o passeio, será que se mexeu mais alguma vez por causa dela? Resposta difícil...


 


Por isso, apesar de estar inserido nesta comunidade, não me revejo nela. Não defendo o comboio irracionalmente, preferindo muito mais uma discussão fundamentada, assente em factos actuais. Por isso, não me considero entusiasta. Prefiro demarcar-me deste grupo de gente e ser um "rapazola que não sabe o que é um comboio". Enfim.

disfunção original de Carlos Loução às 16:06

27.01.11


Bom, já andava com vontade de reactivar isto. Assim sendo... vamos lá "reciclar" um texto que já divulguei nos fóruns ferroviários lá algum tempo.


 


Ora bem, tem-se falado muito nos últimos tempos, especialmente pelo advento da criação do MNF, da preservação do material circulante que andou por cá há anos. Que se deveriam ser preservadas todas as unidades em estado de marcha e prontas a arrancar logo que possível, para se fazerem especiais sempre que necessário, e por aí adiante.
A minha opinião, a esse respeito, é algo simples. Preserve-se uma, ou mesmo duas dependendo das circunstâncias, e que o resto seja vendido ou ovarizado.
Porquê? Ora bem, esse tipo de material, que não vai mais ser utilizado, que fica depositado onde quer que seja, é uma dor de alma para quem lá passa, um espectáculo degradante que dá mau aspecto, à medida que os anos vão passando, que o metal se vai enchendo de ferrugem e as suas superfícies ficando cobertas pela tinta venenosa dos grafittis.
Mas porque não se mantém esse material e se evita que chegue a esses pontos, fazendo sempre o possível para que ele esteja sempre num brinquinho? Tenhamos dois dedos de testa e não embarquemos em fanatismos: o material não sobrevive sozinho. Precisa de manutenção, e essa manutenção custa dinheiro. Precisa de mão-de-obra, e essa mão-de-obra também custa dinheiro. E quem está disposto a pagar essas coroas que, já para uma máquina são puxadinhas, ainda mais para quarenta, ou cinquenta, ou mais? E mesmo a manutenção para charters é extremamente inviável. Gastar-se rios de dinheiro para algo que só funciona (se funcionar...) uma ou duas vezes por ano não me parece boa política, especialmente em tempo de vacas esqueléticas.
Daqui vem outro ponto, que é caro a muita gente: porque não se colocam operacionais a 1311 e a 1501? E eu pergunto... para quê? Gastarem-se mundos e fundos que podiam ser aplicados noutros lados - a recuperar outras unidades, por exemplo - a manter funcionais duas locomotivas que não vão sair mais da redonda do MNF? Alguém, sinceramente, e deixando-nos de sonhos e fantasias, acredita que mesmo que, caso elas estivessem em condições de trabalhar, se faria algum especial com elas? Pagar a maquinistas para trabamexerem em material parado há tempos, a funcionários de bar/restaurante, e a quem mais seja preciso para que a coisa funcione? E, para além disso, a REFER teria de ser tida em conta, até porque muitos desses especiais teriam como objectivo circularem por linhas abandonadas ou de circulação suspensa, e aí a malta da infraestrutura teria de ver se a linha está em condições, mandando uma dresine, depois, arranjando canal para as circulações... e não estou a ver gente com disposição e capital suficiente para querer largar umas toneladas de €'s só para dar uma passeata de comboio. Por isso, podem-se deixar tanto a ALCo como a Whitcomb como estão, que, tendo em conta a sua função, estão mais que preparadas. Se todos os dias nos choramos, como contribuíntes, dos nossos impostos pagarem os carrinhos deste e daquele e do outro, acham que a malta iria ficar contente de pagar a manutenção de meia-dúzia de relíquias que não mais vai andar na vida?
No entanto, se houver gente interessada nesse material - leia-se: privados - aí a história muda radicalmente de figura. Quer seja com intuitos de as manterem a trabalhar - como a Takargo fez com a 1445 e a 1449 -, quer estejam mais virados para a preservação. Aqui, o que costuma acontecer nos outros países é que existem associações que compram uma locomotiva, resguardando-a em local próprio, mantendo-a às suas custas e que, de quando em vez, e em acordo com as autoridades locais, lhe vão dando uso. Tudo isso teria o meu aval de ser feito cá... se fosse feito por privados, lá está. Dinheiro público para isso, nunca na vida.
Uma outra alternativa seria, no caso de haverem interesasados nisso - e tem havido, tendo em conta os últimos anos - vender o material capaz de se mover e de trabalhar decentemente a outros países que não tenham problemas em receber peças com trinta ou quarenta anos de idade. Que haja outros a dar-lhe o uso que, aqui, já não temos para elas. E se, aí, a manutenção pré-embarque é da responsabilidade das gents de cá, sempre se apuram uns cobres para se comprar o gasóleo para as 1400's de Lisboa-SA.
E, sendo assim, resta um grupo de material: aquele que está incapaz de se mover, ou demasiado danificado e/ou sem grande valor histórico. Para esse, não haja ilusões, forja com elas. É duro, é triste, mas não é mais triste ver-se o material a apodrecer com o tempo? E ninguém caia no erro de pensar que, depois de quinze ou vinte ou trinta anos encostadas, a CP vai buscar uma máquina, que a vai arranjar e meter em condições de funcionamento... até porque isso, lá está, iria envolver demasiados dinheiros que a CP não dispõe, e mesmo que tivesse, seria um desperdício, podendo-se apostar em material novo e melhor.

disfunção original de Carlos Loução às 14:13

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