Para quem me conhece, sabe que há coisas que, a mim, me fazem ferver o sangue. E, andando eu por fóruns ferroviários, uma dessas mesmas coisas acaba por ser, basicamente, quem constitui a comunidade entusiasta portuguesa. Os entusiastas em si.
O entusiasta português é um agarrado e quer ser o maior do bairro dele. Se formos aos fóruns ferroviários espanhóis, franceses, alemães e afins, encontramos lá fotos antigas, documentos históricos, e o mais, disponíveis um pouco para todos. Em Portugal, existem fóruns ferroviários aos pontapés, onde tudo está escondido (e aqui, contra mim falo, pois sou administrador dum que faz isto mesmo - pela razão que explico no ponto a seguir) - fóruns esses que foram sendo criados por querelas internas, conflitos e birrinhas. E este comportamento não se restringe só aos fóruns - até mesmo nas associações de entusiastas isto acontece. Mas adiante. O entusiasta português gosta de ter um baú onde coloca as suas fotos, onde as guarda leguisiosamente, quais tesouros, para construir o seu livro de memórias - ou apenas para as ter guardadas e a ganhar pó.
O entusiasta português gosta que os outros façam o trabalho dele. Gosta de copiar fotografias, dados e outas coisas de livros e dos próprios fóruns ferroviários sem sequer se importar em manter as fontes ou até mesmo esforçando-se por ocultá-las - razão pela qual, em Portugal, se "blindam" as coisas mais importantes e antigas.
O entusiasta português é um "velho do Restelo". Quer comboios a circular mesmo que não hajam pessoas para andar neles, defende ligações absolutamente despropositadas nem nunca as ter utilizado, acha que "isto era bom era no tempo do vapor" e abomina todas as modernices, TGV's e afins. Abomina também quem tem uma opinião contrária, porque "eu é que sei", e "os rapazolas de agora não sabem nada de comboios".
O entusiasta português só se mexe por sede de protagonismo. Ainda me lembro duma história que aconteceu com o passeio da 2501 à Barquinha, em Outubro de 2009. Houve um maquinista da CP que andou muito envolvido com a locomotiva, com o processo de adopção dela pelo MNF, com a troca de pantógrafos. A partir do momento que ele não foi o maquinista designado para o passeio, será que se mexeu mais alguma vez por causa dela? Resposta difícil...
Por isso, apesar de estar inserido nesta comunidade, não me revejo nela. Não defendo o comboio irracionalmente, preferindo muito mais uma discussão fundamentada, assente em factos actuais. Por isso, não me considero entusiasta. Prefiro demarcar-me deste grupo de gente e ser um "rapazola que não sabe o que é um comboio". Enfim.