Pois é. Três anos sem um único post neste recanto. E, para falar verdade, já não pensava dar uso a este velho recanto. Mas há bichos que falam mais alto e vontades que não desaparecem. E por isso aqui estamos. Sabe-se que o fenómeno das redes sociais tem causado o definhar desta blogosfera que já foi um mundo... o que no meu caso até nem se verifica: se não escrevo aqui, não escrevo em Facebooks, ponto. Mas talvez possa dar uma nova vida a este cantinho - e tenho aqui um ou outro rascunho que até posso chutar para a actividade.
Mas adiante.
Eu, pessoa depressiva, me assumo. Para muitos, a depressão, não passa de uma desculpa. "Queres é atenção!", "Coitadinho de ti, até parece que tens algum problema grave!", para citar dois exemplos de respostas. É sempre fácil estar de fora e proferir juízos de valor sobre o que se passa na cabeça de outrém. Todavia ninguém julgue sem saber as dores alheias - talvez seja um chorrilho de lugares-comuns, mas é a realidade: podemos ter um emprego, termos familiares que se preocupam connosco, que nos adoram, e mesmo assim sentirmo-nos como se tivéssemos uma pedra de 16 t amarrada ao pescoço. Por coincidência, neste dia há 12 anos um jogador de futebol bastante conhecido colocava termo à sua vida devido a uma depressão. E um futebolista - e um futebolista como era o Robert Enke - em teoria seria uma pessoa que não teria grandes motivos para andar deprimido, o que apenas demonstra que são coisas que não afectam só os pobretanas e a arraia-miúda.
Para outros, a solução para quem está deprimido passa por dar umas palmadinhas nas costas e dizer "Não penses nisso!". O problema é que quem está deste lado da barricada não consegue não pensar nisso. Aliás, como bem se sabe, quanto mais se pensa em não fazer uma coisa mais nós vamos fazer essa mesma coisa - e a mente é demasiado desobediente para fazer aquilo que é suposta. Pensamos em tudo e no seu oposto, questionamos tudo, interrogamo-nos sobre se realmente estaremos a fazer alguma coisa certa, não temos a certeza do que devemos fazer ou não. E por mais que nos dêem palmadinhas nas costas, de manhã ao acordar as dúvidas vão lá estar à mesma, as vozinhas que vão buscar toda a tralha negativa existente vão acordar e começar logo ao trabalho... não nos restando outra alternativa senão engolir em seco e tentar arranjar força de vontade para meter os pés fora da cama e tentar encarar um mundo e uma sociedade que não se compadece de quem não é "forte", de quem não tem "lata".
Que podemos fazer? Diz-se que o primeiro passo tem de ser dado por nós, o reconhecer que precisamos de ajuda; a meu ver e talvez por me ter sido fácil reconhecer isso, acho que esse passo é extremamente fácil. Todavia... e depois? Que ajuda é que nos vai fazer superar estes desarranjos? Vamos ao psiquiatra, ele receita-nos medicação... mas até a medicação ficar no ponto ainda há muito a penar - e não nos esqueçamos que a medicação é receitada ao consoante daquilo que nós dizemos, e o que nós escolhemos dizer ao psiquiatra como possível causa para os nossos problemas até pode ser um factor irrelevante, enquanto nos calamos sobre aqueles que realmente nos deitam abaixo porque os desvalorizamos. Não há absolutos, não há possibilidade de nos ligarem uma máquina à cabeça e verem exactamente quais as zonas afectadas e os problemas que urge atacar. Daí podermos andar uma vida inteira no psiquiatra e andarmos sempre mal porque não estamos a ser tratados convenientemente devido a não colocarmos certeiramente o dedo na ferida. Todavia não quero dizer que não acredito na solução psiquiátrica - aliás, é precisamente o oposto e talvez eu coloque demasiada esperança que haja medicação que nos dê um élan capaz de nos meter a ver unicórnios e arco-íris e a andar de peito feito e sorridentes como se nada nos afectasse. Talvez eu seja demasiado utópico neste patamar e devesse apenas procurar andar minimamente funcional, capaz de funcionar na dita sociedade defeituosa que temos.
Podem-se perguntar: afinal, qual o objectivo deste post? O que defende ele? Em suma... diria que o objectivo deste post é, tão só e apenas, despejar cá para fora o que sinto e o que penso, mostrar um pouco de como funciona a minha mente desarranjada. Não preciso de palmadinhas nas costas, de "respira fundo, vai correr tudo bem!". Preciso, apenas e só, que a depressão adormeça o suficiente para eu poder funcionar como deve ser - ou como deveria ser. Mais nada.