20.11.18

 

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Já há algum tempo que aqui não vinha. Não por falta de assunto ou vontade de escrever (OK, às vezes por este último motivo), mas porque quando começo a escrever este tipo de textos tem de ser de uma vez só; e o normal é começar a debitar ideias, depois faço outra coisa qualquer entretanto, surge-me mais uma tarefa e quando vou a pegar no texto novamente já não vai com o mesmo rumo que ia anteriormente. Mas de vez em quando sinto alguma vontade de aqui acrescentar mais um post. Afinal de contas, comecei esta coisa em 2005 (!) e custa-me vê-lo abandonado. Mas não interessa, para variar um bocado estou a perder-me em rodriguinhos. Prossigamos.

Há muito que deixei de acreditar num plano superior que nos recompense pelos nossos bons actos em vida e nos castigue pelam merda que fazemos durante o tempo que estamos vivos. Isso pressuporia que o Universo é um lugar bom e justo – e acho que todos nós já nos apercebemos que é tudo menos isso. Pode-se dizer "ah, não sabes se isso é mesmo assim", e é verdade: normalmente quem parte nunca volta para nos dizer que se passa (o que por si pode querer dizer alguma coisa).

Pensando um bocadinho… se apenas fazemos o Bem para que possamos vir a ser recompensados no Outro Mundo, isso não faz de nós, seres humanos, egocêntricos e interesseiros? O que talvez justifique o porquê da criação desse mito: se não houvesse a promessa de uma possível recompensa futura, nós seríamos ainda mais ruins do que o que somos habitualmente.

Quando vemos uma pessoa acamada, em estado vegetativo ou similar, dependendo do que foi a sua vida, há quem diga que "está a pagar pelos pecados em vida, enquanto não os pagar todos fica ali preso/presa naquele corpo" – o que acaba por contrariar um bocadinho a tese do Inferno depois da morte, pois assim ia logo directa lá para baixo sem causar dor aos familiares que cá ficam. Mas e se a pessoa em questão não tiver sido má pessoa, se sempre se tiver comportado de forma correcta, tentando melindrar o mínimo de pessoas possível (enquanto essas mesmas pessoas a iam enrolando vez após vez), sempre de acordo com a lei da religião e sendo sempre temente a Deus… qual é a justificação para sofrer esse castigo? Terá a entidade divina vontade de fazer aquela pessoa sofrer um bocadinho antes de a acolher no Reino dos Céus – o que significaria que é um sádico de primeira apanha – ou significa, pura e simplesmente, que o Universo é um lugar aleatório, sem qualquer balança cósmica e onde não há recompensa para os bons nem castigo para os maus? Depois começam as disxussdis sobre o que é considerado "bom" e o que é "mau". Se uma pessoa A mata um animal para salvar a vida de outra pessoa B, pode haver quem ache que a pessoa A é uma pessoa boa pois conseguiu salvar a vida de alguém, mas decerto – e cada vez mais nos dias que correm… – haverá quem grite que a pessoa A é um canalha e um assassino porque matou um ser vivo, um ser irracional que, quem sabe, poderia estar apenas a defender o seu território e que pode ter condenado à morte também supostas crias desse animal. São enormes argumentações metafísicas para as quais não tenho estômago nem paciência, pois normalmente nessas coisas há sempre extremistas e eu tenho um pó bruto a essa raça.

Nestes textos, eu acabo sempre por fazer imensas perguntas para as quais não tenho resposta. Nem espero. Como diz o título aqui da xafarica, isto são disfunções mentais, devaneios de um tipo que não tenta evangelizar ninguém mas que odeia que o tentem evangelizar seja sobre o que for. Um parvo pouco chato, em teoria.

disfunção original de Carlos Loução às 09:52

27.06.13

Um daqueles textos difíceis que nunca consigo fazer airosamente. Raios.

Há quem fale muito a respeito do poder das redes sociais, que as utilize para andar à procura de engate, para destilar ódio, para aliviar os stresses diários (um bocadinho o meu caso, confesso), para promoverem o seu trabalho, para conviver, para se exibirem, entre muitas outras coisas. Todavia, também serve para nos ligarmos a gente desconhecida, a tomarmos contacto com essas pessoas que não conhecemos e a participarmos no seu dia-a-dia - e vice-versa. Naturalmente, quando acontece algo de mais negativo, isso também nos afecta, nem que seja um bocadinho.

 

Serve este intróito todo para falar da situaçãoda de um casal de jovens1, com quem tomei conhecimento precisamente no Twitter - ela seguiu-me e eu acabei por devolver o gesto. E foi através do Twitter que fui tomando conhecimento da sua gravidez, que fui acompanhando as alegrias e tristezas do desenvolvimento da bebé - para além dos web-logs de ambos os pais, apesar de nunca ter comentado. Dia 20 deste mês, a Leonor veio ao mundo, com 26 semanas e 441 g de peso. As probabilidades de sobrevivência nunca foram muito grandes, mas mesmo assim ela foi-se aguentando e lutando contra essas mesmas probabilidades, desafiando-as, e cada dia alcançado era uma vitória para ela e para os pais. Ontem, a história teve o seu desfecho, e a Leonor partiu deste mundo seis escassos dias após ter chegado. Quando comecei a ver os tweets da mãe a indiciarem o pior, confesso que comecei a sentir algo revolver-se cá dentro. Passei pela conta de Twitter do pai, esperando que as coisas melhorassem, mas quando surgiu a confirmação, confesso que fiquei alguns instantes de cara à banda, sem saber o que fazer ou como agir.

Porquê? Que poder é este que possuem as redes sociais, que nos faz interligar-nos com pessoas que nunca conhecemos, que nunca vimos, e nos faz partilhar as suas alegrias e as suas tristezas? O que é certo é que, durante o dia de ontem, as coisas parece que não correram tão bem.

 

Há outra questão que este acontecimento me fez voltar à lembrança. Como é que se pode acreditar em algo superior depois de algo assim? Como é que pode existir fé e esperança que o nascimento prematuro de um filho e a sua luta e falecimento faça alguma espécie de sentido mais retorcido e seja um "desígnio de Deus"? Eu pertenço àquele grupo de pessoas que acredita que, se existe um deus, algo, ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance para salvar a pequena Leonor - ou, ao menos, ajudasse a mãe a levar a gravidez até ao fim, dando todas as hipóteses à pequenita de sobreviver e dar alegrias aos seus papás.

 

Um grande abraço de solidariedade para a Ana e para o André. Que não deixem que o desaparecimento da Nô vos afaste ou vos deite abaixo, mas que sirva para ficarem mais fortes e continuarem a procurar a felicidade, relembrando toda a felicidade que a pequerruchita vos trouxe.

 

 

 

 


1- Mais novos que eu e já casados. Só isto dá-me vontade de me atirar aqui da janela do prédio enquanto penso "mas carraio ando eu a fazer com a minha vida?"

disfunção original de Carlos Loução às 21:16

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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