26.07.16

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O texto que segue talvez tenha tiques de parvoíce. Mas como o espaço é meu e eu coloco aqui o que me der na real gana, que se lixe. Além do mais, como estou a atravessar uma fase algo negativa, nada como dar asas à escrita para distrair.

O Rodolfomobile morreu. Aquele "Ferrari dos pobres" que me acompanhou durante os últimos oito anos por essas estradas nacionais percorreu o seu último quilómetro e partiu rumo a esse ferro-velho celestial para onde vão os carros quando chegam ao fim da vida. Alguns de vós poderão achar que isto é demasiado parvo e que um carro, qualquer carro, não merece tamanha pieguice, mas... nunca se esquece o nosso primeiro. Seja lá o que for o assunto, seja a primeira vez que tivemos intimidades com uma rapariga, a primeira vez que fomos trabalhar. E o Rodolfomobile foi o meu primeiro carro. Um Seat Ibiza Mk. 1 de 1988, preto, quadradão, que fora de um tio meu e que o meu pai depois "reencaminhou" para mim. Chegou-me às unhas com cerca de 85 mil quilómetros percorridos (sim, durante a vida nunca teve muito uso), faleceu com mais de 144 mil. Era um carro que deu problemas ao nível do radiador e que demoraram anos a ser resolvidos (apesar de nunca a 100%), sem ar condicionado nem vidros eléctricos e, durante algum tempo, sem ar quente no habitáculo - o que significava que viajar nele durante o Inverno era um castigo. Tinha uma ponteira da direcção que fazia banzé sempre que se arrancava em curva, o vidro da porta traseira do lado esquerdo não abria, a alavanca das mudanças tinha um buraco no centro da "maçaneta" devido ao Sol ter queimado o plástico todo. E, mesmo assim... tinha carisma.

O Rodolfomobile não era só um carro, foi um companheiro insaciável de muitas viagens e aventuras (insaciável pois tinha um apetite voraz por gasolina que quase trinta anos de vida não conseguiram diminuir, antes pelo contrário). Levou-me de férias para a terra incontáveis vezes, de férias para outros lados, atrás de comboios, de casa para o trabalho e de regresso, levou-me à descoberta de centenas de marcos quilométricos, levou-me ao encontro das pessoas que amava, levou-me inclusivamente algumas vezes ao Céu. Em oito anos, fiz com ele o que qualquer um fez ou deve ter feito com o seu primeiro carro. E... não vou mentir: tinha a secreta ambição de o conseguir preservar, restaurando-o até ficar quase como novo - mas a vida nunca mo proporcionou, nunca consegui ter finanças para começar esse projecto. E, há dias, isso tornou-se inviável, com um ataque cardíaco fulminante que o deixou em coma irreversível. Perante os factos, e com enorme pena minha, nada mais houve a fazer senão desligar-se a ficha e proceder-se aos arranjos para o funeral. Neste momento, o Rodolfomobile ainda poderá existir, mas já apenas como um monte de ferro-velho, uma carcaça já sem algumas peças, ou algo intermédio.

Neste momento, a busca para um substituto já começou, e até pode ser que o escolhido seja um carro muito melhor, muito mais confortável, com ar condicionado, vidros eléctricos e essas coisas todas. Pode ter isso tudo - mas não terá o carisma do Rodolfomobile. Aquele carro tinha uma identidade própria, coisa que os carros de hoje em dia já não possuem, todos cheios de electrónicas e computadores e cinzentismo.

Já tenho saudades do Rodolfomobile.

disfunção original de Carlos Loução às 19:50

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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