17.03.16

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Devia falar por aqui mais vezes, é um facto. Mas o Facebook rouba-me a vontade de vir largar aqui postas. Não que passe a vida lá enfiado, atenção; todavia, tropeço em algo que me faz rir no dia-a-dia e acabo por despejar lá, escrevo uma frase ou duas e pronto. Mas desta vez vou forçar-me aqui, a escrever o que me deixou na necessidade de disfuncionalizar um bocadinho (esta coisa de inventar palavras é muito in, não é?).

Hoje, pela primeira vez na minha vida, presenciei um capítulo de uma batalha pelos direitos parentais de uma criança. E confesso que não gostei do que vi - se calhar acho que qualquer um não gostaria... mas abordemos o assunto com o máximo de precaução para tentar não ferir susceptibilidades (que hoje em dia temos de ser politicamente correctos ao máximo senão em menos de nada temos uma multidão à nossa porta com archotes e forquilhas pronta a linchar-nos).

Hoje fui ter com uma amiga (chamemos-lhe Filipa, um nome fictício) - sim, eu tenho amigas do sexo feminino. Depois de alguma conversa, acompanhei-a para ela ir buscar o filho à família do pai da criança, pois, depois do nascimento do rebento, pai e mãe desavieram-se e separaram-se, como tantos casais por esse mundo fora, e agora não se podem ver sem começarem a discutir, mesmo com os membros da família do ex-conjuge. A coisa tomou contornos de tal forma que a justiça já está metida ao barulho e está acordado que cada pai pode passar um fim-de-semana com o filho, indo-o buscar a determinada hora. E hoje foi o dia de Filipa ir buscar a criança.

Se todas as coisas corressem bem, à hora regimental, a criança estaria pronta para ir com a mãe; todavia, devido a alguns problemas (quem sabe derivados de toda esta situação), ela anda na terapia da fala. E assim que chegámos (com um ligeiro atraso, admito), a criança ainda não estava despachada, pois a consulta da terapia acaba à hora a que a custódia troca - aparentemente. Durante o tempo de espera, Filipa, que é uma rapariga de "pelo na venta", esteve na rua, a mandar vir com o Universo, a mandar bocas alto e bom som - que as pessoas que estavam em casa decerto ouviram.

Quase meia-hora depois da hora prevista, aparece o carro com a criança, o pai, o avô e a companheira actual do pai. E logicamente começa um bate-boca por causa do atraso, por causa do comportamento de Filipa, dos direitos de cada um, olharam o meu carro a pente fino, perguntaram-me onde tinha a cadeirinha, ao verem que não tinha armaram (ainda mais) um pé de vento para que eu não os levasse no carro, e quando Filipa se resolveu a levar a criança consigo e ir de transportes para casa (tendo de apanhar autocarro, comboio e autocarro para lá chegar) anunciaram alto e bom som que me iam seguir para garantirem que eu não lhes iria dar boleia. E, efectivamente, depois de Filipa ter abalado a pé com a criança rumo à paragem do autocarro, durante um bocadinho tive um carro atrás de mim - e, para não chatear mais os senhores, pois eles pareciam estar chateados, até fiz questão de esperar por eles. Um pouco mais à frente, virei para um lado e eles seguiram para o outro. Enquanto eu dava uma volta a uma rotunda (porque, a bem dizer, eu me enganei no caminho), vi o carro dos familiares do marido já a voltar para trás e duas pessoas - o pai e a namorada - a correrem desabridamente rumo a um ponto desconhecido. E assim acabou aquele momento de tensão... pelo menos para mim. Segundo vim depois a saber, o carro com o avô da criança entreteve-se a seguir o autocarro onde seguiam Filipa e a criança até à estação do comboio, ficando na zona envolvente à espera que eles entrassem no comboio.

Bom, isto agora é tudo muito giro de ler e debater e pensar. Todavia, como eu disse ali em cima, esta foi uma batalha de uma guerra que terá sempre uma vítima: a criança. Por muito que se tente escudar e proteger os filhos das discussões e zangas e birras entre membros familiares, eles apercebem-se de tudo e acabam por sair magoados. Ao mesmo tempo, é triste ver que aquela criança é "usada" como arma de arremesso para um lado tentar levar a melhor um sobre o outro. Todos querem o melhor para a criança, acham (ou dizem) que o seu lado poder-lhe-á dar tudo o que ela necessita para ser feliz; todavia parecem contentar-se mais em fazer os possíveis para que quem está do outro lado sofra a pena de perder todos os direitos parentais sobre aquela criança, provocando e tentando fazer com que o outro lado cometa uma imprudência que possam apresentar na justiça. Só que... que solução existe para estes casos, em que os pais quase parecem querer matar-se uns aos outros? Que fazer aos filhos para que eles sejam poupados a estas situações? Retirá-los a ambos os pais? Família de acolhimento? Decidir logo na altura entregar a custódia a um dos pais e não haver cá partilhas?

Tomar partido por alguém sabendo apenas a versão de um lado é errado; por isso abstenho-me de dar a minha opinião sobre este caso - até porque eu de jurista tenho zero e percebo ainda menos que zero destas coisas de leis e direitos e deveres quando mete filhos (até porque ainda não tenho nenhum). Agora que é algo que merecia uma resolução definitiva sem que os advogados de ambos os lados andem a deixar passar o tempo e a deixar arrastar ainda mais a coisa, ai isso merecia. Mais que não seja, pelo bem da criança - afinal de contas a "responsável" por toda esta situação e a que menos culpa tem nesta autêntica novela... e de quem toda a gente se esquece enquanto arrancam os cabelos uns dos outros. É triste.

disfunção original de Carlos Loução às 23:31

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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