01.07.15

Buckets-of-Shit.jpg

(f...-se, que hoje abusei no tamanho do título...)

Durante anos, os Estados Unidos da América foram a terra do "sonho americano", onde qualquer pessoa podia seguir o seu sonho e atingir o sucesso. Nos dias de hoje, todavia, eu diria que os States já foram ultrapassados por um país bem mais pequenino: Portugal. E isto porquê? Porque não há idiota nenhum que não consiga ter sucesso - bastando, claro está, "cair em graça".

Quer dizer, todos nós reclamamos que Portugal é um país governado por ladrões e oportunistas, que se movem unicamente para encher os seus próprios bolsos: esse tema é longo de discutir; mas, se damos oportunidade de outros oportunistas e idiotas singrarem na vida e encherem-se de papel, que moral temos para reclamar dos engravatados partidários?

Mas enfim, essa questão ficará, possivelmente, para outra altura.

Esta posta (nome bonito, diga-se... deve ser do cheiro a peixe podre) é motivada por um acontecimento do dia de hoje que marcou a minha vida por completo: peguei num livro do Pedro Chagas Freitas. E li duas páginas do mesmo. A minha conclusão foi apenas e só uma: como é que é possível algo tão vazio de substância vender tanto, por Deus? Como é que é possível um livro cheio de frases órfãs de interligação entre elas estar nas listas dos livros mais vendidos em Portugal? Vejamos aqui alguns excertos retirados ipsis verbis até no formato e tudo:

      hoje estou triste porque não escreveste para mim,

      quando fazes beicinho o sol concentra-se no interior dos teus olhos, e tudo à volta escurece,

      e aqui estou eu a escrever,

      já estás a ficar melhor, estás?,

     o teu corpo contra o ar é uma espécie de atestado de incompetência para a natureza, como pode a matéria interromper o correr do tempo?,

      podia escrever hoje sobre o sorriso do teu biquini junto à piscina,

     as vezes que te amei nos meus pensamentos, e de que maneira, é melhor nem te dizer para não te chocar,

      desculpa,

      mas em todos os pensamentos acabámos com um orgasmo,

      que maravilha,

      és tão casta e tão esfomeada,

      no lugar onde estou já te despi várias vezes, e é possível, sim,

     não te rias e me venhas com essa ideia quadrada de que só se despe uma vez, porque depois está despido já,

      não está, amar-te é despir-te várias vezes no mesmo corpo, como se houvesse camadas de nudez,

      e há, só quem nunca se despiu ainda não o percebeu,

      está a ficar bom o texto?, serve-te para me quereres para todo o sempre?,

      (...)

 

original.jpg

A sério, há alguém a quem esta ladaínha toda faça algum sentido? Confesso que li uma página para a frente, para trás, de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda e continuei sem perceber um cartucho daquilo. Também pensei que o livro estivesse escrito num idioma próximo do português mas cujas palavras tivessem significados diferentes - neste momento, é a única ideia que para mim faz sentido.

Gostava de conhecer uma confessa apreciadora dos livros e textos do Pedro Chagas Freitas; gostava que ela me explicasse qual a mensagem escondida no que ele escreve. É que, do meu ponto de vista, os conteúdos dos canhenhos de sua autoria são coisas que parecem sair de um gerador de textos aleatórios, que junta frases sem qualquer sentido umas com as outras, sem que haja um princípio, meio ou fim declarados e confessos, sem que haja um mínimo de fio condutor em todas e quaisquer páginas? Será que isto dos livros é como aqueles quadros que não passam de rabiscos ou esculturas que não passam que perfeitos mamarrachos e que, nos leilões são arrebatados por centenas de milhões de euros? Ou será esta a resposta feminina (sim, porque, convenhamos, a maioria de leitores dos livros do Pedro Chagas Freitas pertence ao sexo oposto) a revistas como a Penthouse, Playboy, Maxmen (nem sei se elas ainda existem, mas vocês percebem a ideia) ou a jornais, publicações em que não é preciso gastar muita massa cinzenta para as compreender?

Confesso que eu sou da velha guarda, prefiro ler livros com um fio condutor, que me prendam à acção, que me façam não o conseguir largar até chegar à última página, sem chegar ao final da meada, sem chegar àquela palavra de três letrinhas que assinala o término do livro ('fim', para os mais distraídos). Gosto de livros que me façam sentir que não dei o meu tempo por perdido ao dedicar-me à sua leitura. E isto, lamento... mas, durante os cerca de dois minutos que perdi a tentar decifrar os textos contidos naquelas páginas, senti neurónios a definhar e morrer sob gritos de agonia extrema. O que já me deixa com poucos...

Podia acabar este desabafo com um "eu consigo escrever melhor que aquilo!" e colocar, como prova, um link para um outro projecto que eu tenho, mais underground, de textos de cariz mais picante. Todavia, como poderíeis apontar e bem, ele está cheio de chuchu (ou tão cheio de chuchu como um escritor em Portugal pode ter), enquanto eu não passo de um gajo com uma fanbase exponencialmente reduzida (se é que existe, de facto).

Touché, meus caros. Touché.

música: Airwave - Candy of Life
disfunção original de Carlos Loução às 21:50

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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