20.02.15

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Os ânimos andam demasiado exaltados, as redes sociais andam em polvorosa. Porquê? Pois, boa pergunta.

Desde os ataques ao Charlie Hebdo houve quem bradasse aos quatro ventos que, com aquilo, era o fim da liberdade de expressão, que, a partir daquele dia, as pessoas iam ter medo de continuar a dizer o que pensam. Eu, na altura, achei isso um exagero. Todavia, mais de mês e meio depois dessa triste data, cada vez mais acho que esses arautos da desgraça tinham razão. Mas não pelos motivos propagados - e com esse ataque à liberdade de expressão a vir precisamente de quem mais a "defende".

Não sei se a crise em que vivemos anda a mexer com as cabeças da população e elas acabam por precisar de aliviar o stress de alguma forma, mas diria que nos dias de hoje há que se ter muito cuidadinho com o que se coloca nas redes sociais - muito mais do que se tinha cuidado com as conversas nos tempos da PIDE/DGS - sob pena de alguém, Charlie ou não, não gostar, seja lá por que motivo for, e desencadear a partir dali uma campanha de ódio contra a pessoa (ou instituição - mas já elaboro este caso), que ecoa em outras pessoas que alinham pelo mesmo diapasão, sentem-se ultrajadas pelo colocado... e, a partir daí, o infeliz tem a vida feita num inferno, com ameaças a tudo o que ele tem (família, trabalho, and so on). Passemos a um exemplo.

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A mensagem assinalada é de José Gabriel Quaresma, jornalista da TVI24. Vou fazer um leap of faith e assumir que todos nós, nalgum momento da nossa vida, dissemos algo do género, nas mais diversas situações. Não sei se sim se não, mas não interessa. O que interessa é que houve quem visse e não ligasse, houve quem achasse piada e se risse... e, logicamente, houve quem não achasse piada à coisa. E divulgasse. E a partir daí começaram as ofensas, as acusações, as ameaças, os mails para a TVI com o intuito de provocar o despedimento do jornalista - o costume, portanto, quando as pessoas sentem que estão a atentar contra a honra da sua dama.

Depois há o exemplo da Sagres. Como sabeis, nestes últimos dias apareceu uma publicidade da Sagres baseada numa fífia/frango/"o que lhe queiram chamar" de Rui Patrício no jogo Belenenses - Sporting. E, tal como aconteceu no caso anterior, houve quem achasse piada, quem encolhesse os ombros e, claro está, quem ficasse afrontado com aquilo, indignando-se contra "o achincalhamento do titular da Selecção Portuguesa", jurando nunca mais tocar nos produtos da Sagres, inundando os servidores de mail do provedor do cliente - e, até, colocando no OLX grades de cerveja Sagres à venda (a um preço ridículo, mas não importa).

Eu sou daquelas pessoas que acham que a vida é demasiado curta para andarmos aqui a destilar ódio por tudo o que mexa e não siga as nossas doutrinas e reconheço que também já me indignei algumas vezes com situações parvas, mas... qual a necessidade de chegarmos a estes pontos por coisas parvas? O que aconteceu à nossa boa-disposição, ao nosso poder de encaixe? E vamos partir do pressuposto que estas campanhas de ódio fazem valer os seus direitos e conseguem efectivamente provocar o despedimento do prevaricador: o que se ganhou com isso? Ou é a sempre presente Schadenfreude que tanto amamos e veneramos a entrar em cena?

Gostava que me explicassem isso. Mas com desenhos, pode ser que eu perceba assim.

 

PS: quero desde já deixar bem claro: se as situações se tivessem passado com outros intervenientes de outros clubes, as minhas posições seriam exactamente as mesmas, lamento. Quando não gosto das coisas, não as vejo - parece-me simples matemática, certo? Como diz uma amiga minha, "Ser Charlie não é rir de tudo, é só não matar quem não nos faz rir."

disfunção original de Carlos Loução às 11:22

18.02.15

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E pronto: os sacos de plástico disponibilizados anteriormente de forma gratuita nas superfícies comerciais passaram a ser taxados pelo Estado. Para além dos gritos useiros e vezeiros destas ocasiões de "Qualquer dia taxam-nos até o ar que respiramos!", o que este acto acabou por resultar é em ver muita gente passar a trazer sacos de casa ou em andar com aqueles recicláveis de 1€ (ou mais, sinceramente atirei o valor ao ar) e meter tudo lá dentro. Bom, se formos a ver, a malta ia ao hipermercado, comprava dez itens e levava dez sacos para casa, cada um com uma coisa. Mas já sei que, dizendo-se isso, as pessoas poderiam dizer "os sacos não gratuitos? Não estou no meu direito de levar os que eu quiser? Então eu levo os que eu quiser!", o que acaba por ser mau para o ambiente, blá blá blá. Por isso, recorre-se à segunda mais fácil e primitiva forma de se inibir o ser humano de fazer alguma coisa: coloca-se um imposto sobre essa coisa.

Agora o que me causa alguns fornicoques no cérebro é ver malta dizer que é uma injustiça retirarem os sacos, que é um direito dos consumidores terem-nos à sua disposição. Meus amigos, eu aconselhava-vos a fazerem uma pequenina imagem no tempo, para o tempo em que não existia grandes superfícies coemrciais cá por Portugal, para o tempo que os vossos pais, os vossos avós tinham de ir à mercearia da esquina (ou da aldeia mais próxima) fazer o avio para a semana ou para o mês, e não recebiam as compras em saquinhos de plástico! Todavia, os compradores iam munidos da sacola de serapilheira ou do cesto de vime, ou daquelas fitas que uniam as paletes de tijolos, colocavam as compras ali dentro e seguiam felizes e satisfeitas da vida (algumas queixando-se das cruzes, mas isso todos nós teremos, se lá chegarmos). Só que, com o tempo, como sempre, fomo-nos acostumando à ideia de termos os saquinhos de plástico à là gardère e agora, que eles passaram a custar a exorbitância de 0,10€ (que, para quem compra muita coisa, realmente é algum custo acumulado), em vez de pensarmos em voltar a este hábito de dar trabalho aos pobres artesãos que ainda se dedicam a esta arte de criar cestos e cestas e sacolas e o mais, optamos antes por reclamar da injustiça que é taxarem-nos os sacos de plástico.

Não ao saco de plástico! Sim à cesta de vime (à falta de melhor chavão para comcluir este post... olha, vai assim mesmo)!

 

PS: o post anterior desta xafarica foi tão bom, tão bom, tão bom que até mereceu destaque no Sapo. A todas as pessoas que se enganaram e vieram cá parar: as minhas desculpas. Manter a bitola era dificílimo: é que aquele post saiu bonzinho, os restantes são assim p'ró merdosos.

disfunção original de Carlos Loução às 14:20

12.02.15

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Antes de mais...

O


 

Pronto, agora que já metemos a bolinha vermelha no canto do post, continuemos.

Nesta altura do Dia de São Valentim, aparece de tudo um pouco para apelar aos corações dos casais de namorados. Como se a tarefa masculina não estivesse já dificultada por termos de adivinhar o que é que o outro lado da barricada gostaria de receber por esta altura, na edição de 2015 as dores de cabeça para os homens serão ainda maiores, pois, para além de uma prenda catita, as caras-metade querem que eles passem a ser uns "Christian Grey" que as amarrem à cama e lhes façam amor louco e furioso com as mesmas. Tudo por causa do filme que acabou de estrear e que é baseado na trilogia das "50 Sombras de Grey", uma espécie de "Corin Tellado" do século XXI mas com correntes e algemas. Não li os livros - nem sequer faço tenções disso - mas quase calculo que consigo descobrir o enredo: uma jovenzinha inocente apaixona-se por um milionário rico e giro que a seduz e a acaba a introduzir ao BDSM. Basicamente, aqueles livrinhos bons para solteiras com cerca de vinte gatos em casa e que continuam à espera do príncipe encantado ou para donas de casa fartas da aborrecida vida sexual e que esperam que, do nada, os maridos se transformem nuns Chistian Grey e que lhes comecem a dar com uma paddle no nalguedo, as amarrem à cama e assinem um contrato em como elas passam a ser propriedade deles.

Eu sempre tenho tentado viver as coisas sob um prisma de que tudo é possível e permitido a um casal desde que haja a) maioridade de todos os intervenientes e b) consentimento de todos os intervenientes. Por isso, não condeno a malta que pratica o BDSM como deve ser, com todas as suas regras e preceitos, e que se tentem mudar algumas mentalidades sobre isso, por forma ao resto do mundo em geral não considerar os BDSMitas como uma cambada de depravados que se vestem de cabedal e látex e fazem "cenas malucas". Nada contra. A porca torce o rabo é quando começam a aparecer miúdas que lêem o livro e/ou vêem o filme e pensam "meu Deus, eu quero tanto ter um Grey na minha vida" e desatam à procura do primeiro gajo que seja giro, rico e que lhes dê porrada e as domine - e que depois se queixam de terem sido agredidas, de não ser nada daquilo que queriam e tal e coiso. Vamos ser sérios: a história só funciona e só tem tanta atracção porque o personagem alfa da coisa é um homem bonito e rico; caso não tivesse essas duas características, encolhia-se os ombros, era giro e tal e partia-se para outra. E só deixamos fazer tudo o que quisermos à outra pessoa se ela for rica e bonita, basicamente. Se o Grey fosse uma espécie de corcunda de Nôtre Dame, aproximasse-se da Anastasia e lhe sussurrasse ao ouvido com voz fanhosa "quero amarrar-te e fazer amor louco contigo", ela pregava-lhe com um banco na cabeça e fugia dali a sete pés. Não me lixem!

Caríssimas, lerem um livro de ficção/romance erótico e/ou verem um filme sobre o mesmo não faz de vós experts em bondage, em sadomasoquismo ou em merda alguma, para ser sincero. Que sirva para apimentar a vida sexual, tudo bem - e as lojas de artigos sexuais já estão a esfregar as mãos de contentamento com a enxurrada de compras que ai vem - mas armarem-se em submissas apenas para terem um bonzão a dizer-vos que vos quer como submissa é... como hei-de dizer?, uma fantasia, nada mais que isso. Daquelas semelhantes às dos homens fantasiarem com enfermeiras vestidas de látex justinho ou com mulheres cobertas de cabedal e botas de salto alto - e, muitas vezes, elas acontecem e acabam por se revelar uma tremenda desilusão. Por isso mesmo são "fantasias": boas para aqueles momentos em que estamos sozinhos e procuramos estímulo íntimo.

Se quiserem mesmo saber o que é BDSM, leiam, pesquisem (o Google é amigo), mas não se baseiem num livro de ficção de realidade zero. A sério. Ide por mim.

disfunção original de Carlos Loução às 21:07

11.02.15

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Ao que parece, "ser-se Charlie" é algo assim tipo interruptor: carrega-se num botão e "somos Charlie", carrega-se no mesmo botão e deixamos de o ser. Isto dá muito jeito quando se toca em assuntos respeitantes à opinião dos outros ou à nossa. Nada que não se soubesse, é verdade, mas tendo em conta os últimos acontecimentos, apeteceu-me puxar este tema mais para cima outra vez.

Isto vem tudo a respeito de um artigo do Expresso onde aparecem a Imbecil Que Acha Que Os Ataques Ao Charlie Hebdo Foram Motivados Pela Austeridade (mas mais conhecida pelo nome de baptismo de "Ana Gomes") e a Imbecil Filha De Adriano Moreira Amante De Paulo Portas (ou, como os amigos lhe chamam carinhosamente, "Isabel Moreira"), que, nos últimos tempos, têm andado num bate-boca digno de um qualquer Rocky Balboa Vs. Apollo Creed. Confesso que isso, a mim, não me aquece nem me arrefece (ou, por outra, até dá gosto de ver duas socialistas às turras e às birrinhas por atenção), apesar de já ter consumido muitos baldes de pipocas a assistir a este "combate".

O que ainda me dá mais vontade de rir é quando o Expresso faz uma foto-montagem em que mete as duas num cenário de jogo de "soco-neles" da década de 90 e aparecem logo "Charlies" - ou seja, pessoas que andaram a dizer que eram "charlie" logo após os ataques terroristas de 7 de Janeiro, que se fartaram de escrever "je suis Charlie" e de defender que a liberdade de expressão e imprensa deve ser sempre respeitada - a condenartanto a imagem como a notícia em que a mesma se incluía. Portanto, os "Charlies" transformaram-se em "terroristas muçulmanos", basicamente.

Sim, eu tenho problemas com isto. Tenho problemas com a malta que diz "temos de respeitar as vistas das outras pessoas" mas depois desatam a atacar os outros assim que alguém dá uma opinião que não se enquadre na opinião geral. Que "temos de respeitar o que os outros dizem/pensam" porque, basicamente, eles dizem/pensam o mesmo que nós: se não fosse assim, essas pessoas estariam erradas e deveriam mudar de opinião para que estejam de acordo connosco.

Nous sommes hypocrites.

 

PS: não sou defensor do nem trabalho no Expresso.

disfunção original de Carlos Loução às 09:59

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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