14.07.11


Contra tudo o que me é natural, contra os meus genes , e contra a minha vontade, mesmo, decidi que não vou assistir ao Tour de France deste ano. Porque, mais uma vez, este é mais um dos meus gostos que se corrompeu com o tempo.


 


Comecei a assistir ao ciclismo internacional ainda no tempo em que tal só se podia ver na RTP2, com os comentários do Marco Chagas; e assisti ainda ás últimas vitórias desse portento espanhol chamado Miguel Indurain, às lutas titânicas contra Alex Zülle, Bjarne Riis e Marco Pantani, à camisola às bolinhas permanentemente presente no corpo de Richard Virenque, às tentativas de Erik Zabel para manter a camisola verde... e, depois disso, surgiram outros nomes: Jan Ullrich, Joseba Beloki, os irmãos González de Galdeano, Mario Cipollini, José María Jimenez, Roberto Heras, Oscar Sevilla, Santiago Botero, Francisco Mancebo, Stuart O'Grady, o nosso José Azevedo, Robbie McEwen, Levi Leipheimer, Carlos Sastre, Ivan Basso, Alexander Vinokourov, Tyler Hamilton, Iban Mayo, Thor Hushovdt, Fabian Cancellara, Tom Boonen, Andreas Klöden, Óscar Pereiro, Michael Rasmussen, Cadel Evans, Floyd Landis, Alessandro Petacchi, Denis Menchov, os irmãos Schleck, Mark Cavendish... e, claro, o inigualável Lance Armstrong. E, ainda na RTP2 ou, mais tarde, na Eurosport, vi e admirei as façanhas desta gente - chegando mesmo ao ponto de arranjar uma bicicleta de manutenção onde pedalava aquando das transmissões televisivas. De ver as quedas, de ver a força de pernas daquela gente, a arrastarem-se montanha acima e montanha abaixo, montados numa bicicleta, fizesse vento, chuva ou calor.


 


Porém, hoje em dia, a situação é diferente. Devido a uma palavra. Doping.


 


Desde o escândalo de 2006 que, praticamente, todos os anos há corredores a serem desqualificados à posteriori, classificações que ficam sem vencedor depois dos laureados terem sido apanhados nas malhas do controlo anti-doping. E, para mim, a machadada final foi dada por um espanhol gabarola que, inclusivamente, já foi apanhado nas malhas do doping, mas que, apesar de tudo, continua pelas estradas a vangloriar-se e a competir: Alberto Contador.


Para além de não grande coisa como ser humano (as histórias da rivalidade Contador-Armstrong durante o Tour de 2009 ainda estão bem vivas na memória de todos), a falta de humildade demonstrada nas semanas seguintes à sua primeira vitória fizeram-me desgostar dele como ciclista, eu que até o começava a apreciar. E a história do clenbuterol apanhada durante o Tour do ano passado, juntando-se às dos resíduos plásticos encontrados em amostras sanguíneas do espanhol, só comprovam que, para além de ser um mau ciclista, é um mau desportista. Porém, a Real Federación Española de Ciclismo , depois de ter proposto a suspensão do espanhol, aceitou o seu apelo; e os apelos tanto da UCI e da Agência Mundial Anti-Dopagem continuam por decidir, depois de Contador ter pedido uma extensão de tempo.


 


E, em Portugal, a situação não melhora. Depois das duas maiores equipas portuguesas (União Ciclista da Maia em 2008, Liberty Seguros Continental em 2009) terem sido varridas do mapa à conta de escândalos de doping, e de termos tido vencedores da Volta a Portugal a perderem o galardão à conta disso mesmo, o meu interesse pela prova máxima do calendário velocipédico nacional é nulo. E, diga-se em abono da verdade, não há muito para interessar ali: uma volta que passa apenas pela zona centro e norte do país, reduzida ao mínimo possível, cortando nas típicas etapas ao sprint do Algarve e Alentejo, do contra-relógio de Portalegre, até duma possível subida ao Alto da Serra de Monchique (que já aconteceu, no passado)... para se centralizar, apenas e só, acima do Tejo - e a edição deste ano apenas entra na zona da Grande Lisboa no último dia e para acabar, pois de resto é tudo "lá para cima". E é este o ciclismozinho que temos.


 


Por isso, depois do Benfica, eis mais um amor que vai pelo cano de esgoto. Já não restam muitos, já...

disfunção original de Carlos Loução às 22:37

12.07.11

Ainda no seguimento do meu post anterior, vai um exercício de flashback? Vamos comparar os acessos das zonas da Grande Lisboa e Grande Porto entre 1975 e 2009.


 


Lisboa


 


1975:



 


2009:



 


 


Porto


 


1975:



 


2009:



 


Poucas diferenças, hein?


 


 


 





NOTA: os mapas de 1975 são editados pelo ACP; os de 2009, pela Michelin.

disfunção original de Carlos Loução às 23:17

10.07.11


Somos um país de aparências. Ponto.


 


Podemos dizer a todo o mundo que temos perto de 50 auto-estradas, que temos 2.793 km de auto-estradas - que, no futuro, passarão a ser 3.383. Também poderemos dizer que temos uma das maiores taxas de auto-estradas por metro quadrado1. E, suponho, tudo isso nos faz sentir bem connosco próprios, com orgulho de termos vias em bom estado que nos levam a todo o lado rapidamente.


No entanto, as coisas não são bem assim.


 


Não me vou debruçar sobre a assimetria da localização de tais vias (principalmente, Norte e Litoral), ou sobre a redundância de algumas delas. Pretendo apenas olhar para o que temos, hoje em dia, considerado como auto-estrada, segundo a EP. É que, afinal de contas, temos auto-estradas "camufladas" - sem as mesmas terem as indicações de tal na sinalização presente ao longo das mesmas


 


Nas primeiras 25 auto-estradas, não se encontra nada de anormal2. Quando se chega à A26, porém, o caso muda de figura. Para quem não sabe, esta é a via que vai ligar Sines a Beja (o IP8), da qual existe já um pequeno troçozito entre Sines e Santiago do Cacém. Ainda sou do tempo que essa estrada lá tinha as placas de via rápida, as antigas (que, infelizmente, não consigo encontrar na net, senão colocava aqui); desde então, retiraram as ditas placas e incluíram-na neste projecto, já designando-a como "A26"... esquecendo-se de que não é uma auto-estrada: tem viragens à esquerda, cruzamentos, paragens de autocarro e não existe vedação à volta das faixas de rodagem. Depois, temos a A30, que não passa de uma via rápida entre a Ponte Vasco da Gama e Santa Iria da Azóia; a A31, que, apesar de ter "perfil de auto-estrada", possui lombas e nós impróprios para uma via exclusiva para automóveis; a A36, que... bom, é a CRIL; a A37, que é o nome "pomposo" do IC19; a A38, que é a Via Rápida da Costa da Caparica - que tem um cruzamento à esquerda e tudo, para além de paragens de autocarro ao longo do percurso; a A39, a Via Rápida do Barreiro, que, um dia, há-de dar ligação a Lisboa pela Terceira Travessia do Tejo, mas que, por agora, é uma simples via rápida com cruzamentos, rotundas e tudo; a A40 - Radial de Odivelas, que continua a manter a designação de IC22; e, para finalizar, o caso flagrante da A44, uma auto-estrada estreitinha e bermas estreitinhas, com paragens de autocarro e trocos ainda assinalados como IC23. Já agora, todos estes casos, salvo erro, não se encontram sinalizados como auto-estradas. Porém, estão incluídos no PRN2000 como tal... e também há alguns com limites de velocidades inferiores à norma e que não foram aqui referenciados, para não maçar.


Dá a ideia de que era necessário termos um x número de auto-estradas e que, dessa forma, muitas das vias rápidas e IC's existentes foram "promovidas" sem se reparar se tinham ou não perfil para isso. E, apenas mais tarde, se pensou em modificá-las, a médio-longo prazo. Não faz sentido, mas, mais uma vez, é mais um caso de nos preocuparmos com as aparências, apenas e só - por isso, a minha abertura deste texto.


 


Não sou contra as auto-estradas, atenção. Sou contra, isso sim, "dourar-se a pílula" para parecermos bem nas estatísticas e considerarmos como auto-estradas vias que não o são. Mas tudo bem.


 


 




1- Não tenho aqui os números à mão, pronto.


2- Com excepção dos troços do IC10 entre Santarém e Almeirim que já é considerado parte da A15, e do IC16 entre a CREL e a CRIL e à A20, ainda pouco assinalada como tal; e, em relação à A19, não vou comentar, por não poder comprovar a situação no terreno.

disfunção original de Carlos Loução às 15:20

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