31.03.11


Bom, vou passar a ser um gajo da moda. Tendo em conta que, agora, o que está a dar é falar de política, deixa-me cá saltar para esse bandwagon.


 


José Sócrates finalmente caiu, depois dum longo e angustiante reinado de seis anos. Há quem diga "finalmente", alguns dirão "infelizmente". Eu encontro-me perto dos primeiros, mas não lá. Não vou discutir sobre a valia (ou falta dela) de Sócrates como PM, pois não é isso que prevejo fazer neste texto. Não vou apontar as mentiras que empurrou ao longo destes seis anos, e não vou avaliar sobre se foi um mau Primeiro, ou um péssimo, ou ainda catastrófico. Porém, verdade seja dita, não fiz nenhuma festa quando o PM apresentou a demissão. Não atirei figuetes, nem nada. Porque a questão que se coloca é o "e agora?". Quem é que vai suceder ao dito "Pinócrates"?


 


Provavelmente o problema até será meu. Afinal de contas, gostaria que surgisse desde já uma candidatura de alguém que fosse capaz de levar esta frederica a bom porto. Se calhar, estou assolado dos vícios dos portugueses, que querem que tudo seja feito rapidamente e sem olhar a quem - e feito por "eles". Gostava que aparecesse por aí um Messias que, desprovido de ligações políticas (epah, gostava disso, pronto! Deixem-me ser utópico à vontade) mas munido duma equipa decente, com homens de valia nos principais pontos-chave, que cortassem onde tivessem de cortar, que apertassem onde tivessem de apertar, mas que levassem a carta a garcia. Só que lá está... sem uma máquina política por detrás, nunca tal projecto teria pernas para andar, pois em Portugal vota-se mais nos partidos do que nas pessoas. E assim, cá estamos nós na realidade actual, com todos os partidos a atirarem as culpas uns para os outros - com o beneplácito do tísico de Boliqueime, entretido a roer no seu bolo-rei e a apreciar a reforma no Palácio de Belém.


 


Aí está outra questão que também me faz alguma comichão, parecendo que não (tanta rima enfiada, cristo!). Afinal de contas, quem é que é o culpado de tudo isto? Já sei que muitos irão dizer que a culpa é "deles", ou dos "gordos", dos "capitalistas", dos "patrões". E, a meu ver, estaríeis completamente errados. Retirando uma frase dum dos meus filmes favoritos, "if you're looking for the guilty, you need only look into a mirror". Honestamente, sinceramente, é perfeitamente inútil e patético escudarmo-nos detrás do sempre generalista "eles" e desviarmos as nossas culpas de toda esta crise. São "eles" que governam? Pois são. Mas quem é que os mete lá? Quem é que bebe as palavrinhas que eles dizem, quem é que acha que o que eles dizem é verdade, quem é que acredita na ladaínha de vendedor de banha da cobra? Somos nós. E, como já referi, quem é que vota em candidato 'a', 'b' ou 'c' apenas e só por causa da cor política, sem sequer ter em consideração a valia da pessoa, o currículo, a sua carreira? Eu me confesso: eu não sou. Alguns também não o farão. Mas muitos fazem-no sem hesitar. E, se dúvidas houverem, é só olhar-se os resultados das eleições dos últimos anos.


 


Não vejo solução para esta crise. Isto porque os portugueses não se sabem governar a eles mesmos. Sabem-se governar, apenas e só. E, enquanto os dinossauros políticos continuarem a enxamear a vida governativa portuguesa (ávidos defensores da prática de se governarem), a meu ver, o caso vai estar mal-parado. Para todos nós.

disfunção original de Carlos Loução às 22:04

24.03.11


Para os mais distraídos, Roger Waters veio a Portugal no início desta semana, com o seu "The Wall Live Tour", num concerto duplo que esgotou, com meses de avanço, o Pavilhão Atlântico. Sendo um ávido fã de Pink Floyd, nunca me perdoaria se enjeitasse a oportunidade de ver o ex-frontman da banda que marcou uma geração - e me marcou a mim, também.


 


Vou ser honesto. O meu amor por Pink Floyd não começou muito cedo - como poucas das coisas que me marcam hoje em dia. Havia umas músicas que me agradavam, mas era o só. Até que, em 2006, tomei contacto com um duplo CD chamado "The Wall"... e caiu-me o queixo, ao deparar-me, não com um conjunto de músicas que partilhavam o mesmo suporte físico sem terem nada em comum, mas sim com um monumento, em que se conta um conto, em que todas as músicas possuem um significado e adicionam mais uma peça no puzzle que é a história de Pink, a personagem central do álbum - e a história do próprio Roger Waters. Órfão de pai devido à II Guerra Mundial, criado por uma mãe algo protectora que procurou compensar a morte do pai, e tendo de lidar com a infidelidade da namorada, Waters teve, num incidente com um fã durante um concerto, a "faísca" que faltava para produzir uma das grandes obras musicais de sempre. Infelizmente, este álbum também provocaria a cisão interna dos membros do grupo, com Richard Wright a ser despedido e a ser um mero "músico contratado" durante a digressão que se seguiu ao lançamento. O álbum seguinte, "The Final Cut", já seria quase um "álbum a solo" de Waters.


 


De qualquer forma, foi este álbum que me fez tomar conhecimento, mais a fundo, do trabalho dos Pink Floyd. Acabei por coleccionar os álbuns todos, ouvir todas as músicas, investir em livros sobre a banda... e, mal soaram os primeiros zunzuns sobre a vinda de Roger Waters a Portugal, ainda por cima inserido na "The Wall Live", tive logo de reservar a minha presença nesse espectáculo. Os bilhetes para o primeiro concerto, se a memória não me falha, foram colocados à venda dia 1 de Junho - e não devem ter demorado mais de duas semanas a esgotarem. Só depois é que foi avançada a segunda data - e, se eu soubesse o que sei hoje, tinha comprado para esse dia também...


 


Tentar descrever o concerto é algo tão fútil como tentar descrever um pôr-do-sol. As palavras não conseguem fazer justiça à espectacularidade, aos efeitos visuais, às músicas. Viu-se um Roger Waters, do cimo dos seus 67 anos, ainda com muito do vigor que o caracterizou durante a juventude, a cantar para o público, a discursar na sua pele de ditador totalitarista. Viram-se os estandartes do partido ficcional "Hammer", empunhados pelos seus "seguidores". Viu-se um Stuka a voar sobre a audiência e a irromper em chamas sobre o palco. Viu-se a construção do muro, durante toda a primeira parte do concerto, e à sua destruição após a sentença final de "The Trial". Viu-se (ou melhor, ouviu-se) a monumental vaia quando Waters perguntou se deveria confiar no governo. Viram-se as animações de Gerald Scarfe, inconfundíveis e intemporais, reflectidas no muro. Viram-se diversas imagens de soldados e civis mortos pela guerra, reflectidos no muro durante o intervalo. Viram-se as famosas marionetas do Professor (em "The Happiest Days of Our Life" e "Another Brick In The Wall, part 2") e da Esposa (em "Don't Leave Me Now"), e o não menos reconhecido porco insuflável carregado de mensagens e símbolos políticos.Em suma, viu-se, não um concerto, mas uma epopeia. Uma ópera. E quando as luzes se acendem e os intervenientes aparecem (entre os quais se inclui o próprio filho de Waters), para agradecer ao caloroso público que não regateou palmas, damos por nós com pena de já se terem passado as cerca de 2h30 que dura o espectáculo.


 


Em suma, podia-se ter argumentado que o preço dos bilhetes era algo puxado (o mais barato era de 40€) - mas, para um espectáculo deste calibre, é dinheiro que é bem empregue. Não tenho grande experiência em concertos, tenho de o confessar, mas, sem qualquer sombra de dúvida, este concerto foi um dos pontos altos da minha vida. Ter o privilégio de poder assistir a "The Wall", 32 anos depois do álbum ter sido colocado à venda, para mim foi um privilégio e um orgulho. E digo mesmo mais: caso pudesse, iria a todos os concertos da digressão. Sem hesitar.

disfunção original de Carlos Loução às 19:01

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