27.05.05
Hoje, deu-me para divagar.

Pareceu-me bem meditar ao desbarato, e um sítio perfeito para tal é o terminal fluvial de Cacilhas. Para quem tem vagar, paciência e dotes de observador, é um bom exercício pensar em tudo o que nos rodeia, nas pessoas que entram e saem dos barcos, como formigas. Vêm-se brancos, pretos, chineses, indianos. Gente a quem a vida deu tudo, que correm, apressados, nos seus fatos, engravatados, para tentar comprar o bilhete a tempo de apanherem aquele barco, e outros a quem a dita não foi tão favorável, que também correm, mas em roupas mais casuais. Gente na flor da idade, a mascar pastilha elástica, de t-shirt e ganga, e outros cuja expressão denota o quanto já viveram, no seu passo lento, sem pressa, sem correria. Ao lado da porta, lá se vê o vendedor de chocolates, já idoso, sentado no seu banquinho, ao lado da banca. Do outro lado, uma senhora idosa a vender cintos, malas, e outros objectos do género, enquanto, ao lado, outra venda com artigos mais tecnológicos, e cujo vendedor, também já no ocaso da vida, atesta o bom funcionamento dum dos rádios ao escutar a "Bola Branca". Ao lado, sentados num banco de jardim, algumas pessoas, para quem a vida foi madrasta, na conversa aos altos berros, com um homem a atirar um papel a uma mulher. À frente, autocarros chegam, cheios de gente, gente que deseja ir para a capital, que descarregam, com pressa, pois há um horário a cumprir; partem, de gente cheios, para as mais diversas localidades e terras, com gente que vem do trabalho, morta por chegar a casa e descansar de um árduo dia. Do lado do rio, que já emana um cheiro a maresia, vê-se um cacilheiro a navegar, em direcção ao Seixal, provavelmente. Balança, ao sabor das ondas, em boa velocidade, pois, tal como os autocarros, tem dentro deles passageiros ansiosos por chegarem ao seu destino. E, do lado de lá do rio, Lisboa, a capital, a cidade que motiva tal movimento de massas através daquele terminal, permanecia quieta, algo serena, também ela com milhões de pessoas diferentes, também ela com milhões de estórias diferentes...

Bons devaneios.
disfunção original de Carlos Loução às 19:03

20.05.05
Pois é, o Olá Love 2 Dance III foi no sábado, e só agora me senti na disposição de escrever o que achei do evento. Quando uma pessoa começa a adiar, a adiar, a adiar, é uma desgraça. Mas enfim, cá estamos, todos vivos e contentes. E portanto, vamos ao que interessa, até porque eu não tenho tempo a perder.

Eram 22h e troca-o-passo quando me meti na fila para lá entrar. Uma fila já de si enorme, e que maior ficaria com o passar do tempo (evidentemente), ao ponto de chegar a atingir os 2km's, pelo que me disseram. Confesso que não fui muito honesto, meti-me lá no meio, ao pé da malta do meu curso (que praticamente já têm lugar cativo no OL2D), mas a verdade é que, se tivéssemos sido (eu e o casal que foi comigo - sim, eu adoro segurar a velinha. Sheesh) os únicos a fazê-lo, se calhar a coisa talvez tivesse desenvolvido... mas NÃO! À meia-noite estávamos uma ou duas centenas de metros à frente da posição original. O que quer dizer que, mesmo que toda a gente à nossa frente entrasse de rompante no Pavilhão Atlântico, já haviamos perdido alguns DJ's. Mas enfim.
Pouco depois, lá pela 1 da manhã, decidimos que aquilo assim não podia ser, diabos. Tivemos de nos armar em batoteiros novamente e fomos mesmo lá para a frente. O aglomerado ao pé do primeiro gradeamento era grandinho, portanto nem notaram mais três marmelos lá pelo meio. Mas o pior estava para vir! Então não é que, quando os seguranças decidem voltar a deixar entrar gente (pois houve um largo intervalo sem passar ninguém por ali, não me perguntem porquê), começa a haver um apertão nas hostes, de modo a conseguirem entrar o mais cedo possível, e eu a ficar cada vez mais pequenino, e a ouvir música com o Discman na mochila, e a sentir o pessoal a involuntariamente mudar-me as faixas... Só faltou ficar de olhos arregalados. Confesso que temi pela vida naquele momento, e vieram-me à cabeça aquelas notícias da Índia e países vizinhos, em que centenas de pessoas são esmagadas e espezinhadas pela multidão em eventos religiosos. E os seguranças também não eram essa grande ajuda, pelo contrário: começavam a empurrar a multidão para trás, ou seja, na minha direcção! Se ecoassem os acordes duma música mais pesadota, eu juro que tinha começado a girar bico naquela canalha toda. Tendo em conta que até nem aprecio muito estar apertado, ou estar em multidões muito apinhadas... mas a verdade é que ninguém me obrigou a estar ali. Vim porque quis.
Mas enfim, finalmente consguimos passar aquelas barreiras, mais à frente haviam outras, depois mais outras, e finalmente a verificação da validade do bilhete. E depois disso, finalmente, depois de quase três horas de espera, Olá Love 2 Dance!! O problema é que tanta espera já me havia danificado o organismo: as minhas pernas doíam-me desalmadamente. Mas enfim, suportei estoicamente enquanto pude.
O espaço estava até bem arranjado, o palco estava bom, os preços das bebidas, para variar, estavam bem puxados, mas para compensar havia gelados à borla. O pior mesmo de tudo foi o ambiente do evento. Eu não sei como foi nas duas edições anteriores, nunca lá tinha ido, mas não gostei de ver lá certos indivíduos, que não vou descrever aqui por um desejo de querer permanecer politicamente correcto (pelo menos por enquanto). Posso apenas dizer uma coisa: tendiam um bocado para o chunga. Mas enfim, nunca chegaram a meter-se comigo, nem eu me meti com eles, e assim convivemos felizes e contentes até às 8h da manhã de domingo.
Em relação ao evento em si, o VJ esteve bem, as imagens que passavam nos projectores laterais e por detrás do DJ estavam razoavelmente bem conseguidas, os lasers estiveram muito positivos, o MC fez o seu trabalho, se bem que, por vezes, perdeu algumas ocasiões em que podia (e devia) ter estado calado. Quanto aos DJ's, quando entrei estava na vez de Behrouz, pareceu-me bem, John Creamer nem tanto. Steve Lawler, para mim, foi o melhor da noite, fez um set muito longo, bem energético, e esteve incessantemente a puxar pela audiência. No que diz respeito a Tiësto...
Bom, o rapazinho merece um parágrafo só para si. Afinal de contas, ele é "o #1 do Mundo durante três anos consecutivos". E o seu set tem sido objecto de acesas discussões por esse país fora. Entre os que consideraram a sua actuação divinal e os que o acharam uma valente merda. Eu, nessa querela, prefiro abster-me. É que eu já fazia uma ideia sobre o que iria ser o set dele: afinal, Tiësto lançou, há coisa de duas semanas, uma compilação de dois CD's (In Search Of Sunrise 4, por acaso até está razoavelmente boa), e a participação no OL2D fazia parte do tour de promoção dos CD's. Portanto, era um bocado óbvio que ele iria, essencialmente, passar sons que figuram nos discos. Ainda chegou a passar um dos sons míticos dele, "Suburban Train" (a que mereceu uma referência especial no meu post pré-OL2D), para além do bónus, que foi a versão mais recente da "Lethal Industry", que toda a gente adora e que eu acho que não é nada de mais... Mas de resto, salvo uma ou outra excepção, os sons que se ouviram no Pavilhão Atlântico estão naqueles dois CD's. Faltaram músicas mais recentes, as que a maior parte do público aguardava, como "Traffic", "Adagio For Strings", ou até mesmo "Love Comes Again", mas enfim, não houve espaço, presumivelmente. Fica para a próxima, já em Agosto próximo, no Pacha, em Ofir. Já fora do tour e, espera-se, com todas aquelas músicas que o tornaram "o #1 do Mundo durante três anos consecutivos".
Para finalizar, uma palavrinha à organização do evento. Como já disse, eu não fui aos dois eventos anteriores. Mas, perante um volume de público como se estava a adivinhar, com o evento esgotado uma ou duas semanas antes do dia do evento... será que ninguém pensou que, se calhar, uma porta era capaz de não ser o suficiente para 17 mil pessoas? Que os VIP's tivessem uma só para eles, tudo bem, afinal eles são VIP's. Mas o Pavilhão Atlântico não tem só uma entrada, c'os diabos! Até às 8h da manhã tivémos mais portas abertas para sairmos, e o Pavilhão já não estava nem metade cheio! Por isso é que ouvi amigos meus, que foram às três edições, a elegerem a deste ano como a pior de sempre. Mas pronto, para o ano há mais. Se possível, com menos problemas. O público anónimo agradece.

Bons eventos.
disfunção original de Carlos Loução às 00:29

13.05.05
Há que encarar a realidade: eu sou um revoltado. Estou sempre a disparatar com tudo e com todos, sejam eles quem forem. E, se calhar, se não me desse tanta preguiça de escrever neste cantinho da gloriosa Internet, este web-log não estava tão pequenino assim. No entanto, às vezes há coisas que me tiram do sério e me fazem disparatar em todas as direcções.

Bom, eu até sou uma pessoa muito liberal, acho que cada um deve ter o direito de pensar o que quiser, fazer o que lhe der na real gana. Só que... a respeito da música, infelizmente, as coisas não conseguem ser assim tão lineares. E hoje o meu espírito sofreu um duro teste quando, durante o primeiro troço da viagem que separa a faculdade da minha casa, o autocarro foi invadido por uma meia-dúzia de "teenagers", oriundas da escola profissional que fica ao lado do IPS... com um rádio. Jovens caucasianas perfeitamente normais para a conjuntura portuguesa dos nossos dias. Que, em seguida, ligaram o leitor de CD's do dito rádio... e preencheram aquele confortável autocarro com a sua banda sonora predilecta. Fez-me sentir, nos dias em que vou ao "Kaxaça", no Montijo, aquelas horas antes de começarem a meter sons mais electrónicos, quando passam R'n'B e derivados, e o Nettwerk fica a secar até à 1, 2 da manhã... OK, em menor escala. Mas, de qualquer modo, amaldiçoei o facto dos meus phones, de momento, estarem todos avariados. O que vale é que as ruas de Setúbal não são propriamente lisinhas, e até têm uma grande parte em paralelo; portanto, era o CD a saltar e cá o rapaz com um sorriso nos lábios...
Ai ai... as saudades das músicas de outrora...

Boas danças.

(tenho de fazer um mea culpa: por manifesta preguiça - e porque a minha criatividade agora anda virada para outro lado - , não fiz um post que tinha programado em memória desse poeta da rádio como foi Jorge Perestrelo. Peço imensa desculpa. E outro por fazer posts de tão mísero tamanho.)
disfunção original de Carlos Loução às 16:00

02.05.05
Bom, após duas semanas de mutismo, finalmente me resolvi a voltar a acrescentar aqui umas linhas. Ultimamente até me tenho sentido melhor dos meus problemas, até voltei a escrever nas minhas histórias (que talvez um dia vos revele), e e hoje inclinei-me para o lado dum dos (senão o) eventos mais importante de música electrónica em Portugal: o Olá Love 2 Dance.
Decerto este meu comentário nem existiria, se, por acaso, o cabeça de cartaz não fosse quem é. Mas afinal, é por causa dele que lá vou aparecer, porque me apetece ver Tiësto ao vivo e a cores. Afinal, ele é um dos meus produtores/DJ's preferidos. É uma daquelas oportunidades raras de se ouvir música electrónica de jeito. Farto já estou eu daquele eurodance comercial que enche as compilações de tuning, que passa nos carrinhos de choque (e que provocou a designação de "música de carrinhos de choque" a tudo o que tenha "puntz puntz") e que lá faz a sua aparição na MTV. Basicamente, é sempre a mesma coisa. Mas enfim.

"Tiësto vem a Portugal!! O DJ nº 1 do mundo! WooooOOOOOOOOOOO!!"

Quanto a essa história de Tiësto ser o nº 1, bom... É verdade que Tijs Verwest sabe como fazer bons sons, tem dado muita credibilidade ao Trance pelo mundo fora. Mas da má fama não se livra ele! É que correm rumores que o holandês apenas se limitou a meter o seu nome em algumas músicas creditadas como suas, enquanto os amigos/parceiros/engenheiros de som é que faziam a melodia. Verdade ou não, um facto é que uma das suas músicas mais emblemáticas, "Suburban Train" é bastante semelhante a uma faixa de um outro produtor holandês, Kid Vicious (ou Ronald van Gelderen, se preferirem), que não gostou da brincadeira, processou-o e ganhou (por isso é que nos créditos da "Suburban Train", aparece que esta foi escrita por Tijs Verwhest e Ronald van Gelderen).
De qualquer modo, a sua fama já chegou alto. Foi o primeiro DJ a efectuar um concerto num estádio (Tiësto In Concert, 10 de Maio de 2003 no estádio do Vitesse, em Arnhem), o primeiro DJ a actuar nos Jogos Olímpicos (em 2004, Atenas) e o primeiro a conseguir ser, em três anos consecutivos, o nº 1.
Mas afinal de contas, donde vem esta história dele ser o nº 1?
Pois bem, a votação para esse título é efectuada por uma revista inglesa, a DJ Mag, que por bandas de Outubro abre no seu site um espaço onde os utilizadores podem nomear os DJ's que foram melhores durante esse ano. Tudo bem até aqui. O problema é que, no fim de contas, esta votação acaba por ser mais um escrutínio sobre quem é mais popular, ou quem tem mais fãs. Portanto, se formos a ser bem precisos, ser o nº 1 não significa que se é o melhor: significas apenas que se tem carradas de adeptos.

Boas danças.

(para finalizar, um comentário para todos os cabeças-duras que dizem que trance é para meninos, pastilhados e afins: se quiserem utilizar o mesmo critério mencionado anteriormente, ou seja, a votação da DJ Mag, no Top 5 aparecem 4 DJ's de Trance... será da pastilha?)
disfunção original de Carlos Loução às 00:44

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Este web-log não adopta a real ponta de um chavelho. Basicamente, aqui não se lê nada de jeito. É circular, c...!
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